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Josuel Junior - Editoria

PRECISAMOS FALAR DE... SUENE KARIM

Ela resgata animais em situação de risco, é produtora cultural, tem bom desempenho de escrita e logística na elaboração de projetos e conhece bem a realidade das produções artísticas do Distrito Federal. Precisamos falar de Suene Karim.

Quem trabalha com produção cultural no Distrito Federal sabe que a realidade de quem produz na raça não é fácil, mas ainda assim é prazerosa. A necessidade de aprender, de realizar, de tirar as coisas do campo das ideias e trazer pro jogo prático é o que caracteriza uma boa produção. Suene Karim é uma dessas profissionais que conseguem, numa conversa rápida, desenhar na cabeça a pré produção, a produção e a pós produção de um evento. Sério... converse com ela sobre uma ideia. Ela vai te olhar, vai ficar um tempo caladinha e vai te dizer na prática e na lata se é uma proposta funcional, calculando a conversa em meses, dividindo em funções e contratações, agilizando os pagamentos e pensando na finalização e prestação de contas. Na hora, ela vai saber quanto você pode receber e quanto você pode perder, desde a elaboração da ficha de inscrição até a logística da planilha orçamentária.


Essa visão mais prática, ainda que repleta de romantismo, dá a noção da realidade do trabalho em si e provoca o realizador cultural para que melhore mais e mais, deixando de lado o ego inflado e colocando-se na posição de aprendiz. É sempre uma junção de experimentação, autoconhecimento, desafio e aprendizagem.


Suene começou a vivenciar a atuação teatral aos 17 anos, participando de oficinas e cursos variados, mas na produção cultural ela, literalmente, começou pela necessidade. Trabalhava como secretária em um grande escritório de produção cultural e, por mais que pedisse, não tinha acesso aos textos dos projetos. Assim que saiu de lá, começou a pesquisar sites, textos e projetos diversos, até que conseguiu o trabalho de assistente de produção, isso em 2003. De lá pra cá, aprovou muitos projetos por encomenda em editais culturais. No FAC de 2018 (que foi cancelado e que retorna agora), ela tirou pontuação 100 num dos projetos que escreveu. É mole ou quer mais?

Para Suene, produção cultural nunca é um trabalho feito exclusivamente solo. É um trabalho de equipe, com todas as variações, discordâncias, desalinhamentos e problemas de um grupo de pessoas diferentes. O tipo de produção também é ponto crucial para “dar certo” ou “dar errado”. A produção envolve muitas faces de um mesmo trabalho e ela sabe disso. Suene defende que pra um trabalho dar certo, é preciso ter autoconhecimento e autocrítica e isso, ainda segundo ela, envolve uma ética consigo mesmo e com quem te contrata.


Um dos maiores desafios que enfrenta é quando percebe a imposição de um contratante sobre algo obviamente não viável, seja no valor, no formato de divulgação, na escolha de data, local e horário ou na falta de cumplicidade e apoio por parte dos envolvidos. A harmonia precisa acontecer com a equipe direta, indireta, contratante, contratado, patrocinador, formato da linguagem e comunicação do produto. Quando uma ideia surge, é justamente o coordenador de produção ou o produtor que vai orquestrar o funcionamento prático. Nessa hora, os conflitos surgem e ela opta por observar, cumprir o planejado e fechar bem o seu trabalho.

Suene ensina que estabelecer a divisão temporal de pré produção, produção e pós não garante que o produto vai dar certo, pois isso apenas mostra que o trabalho será feito em etapas que precisam se ajustar, mas todo o resto está ligado a forma como o trabalho é primeiramente entendido, depois executado. Sério... uma tarde de conversa com ela é uma aula de entendimento sobre o que está escrito no projeto e sobre a real execução dele.


É certo que nossa experiência artística nos diz que é difícil ser artista e produtor num mesmo evento. Os dois juntos dão trabalho. Então perguntei à Suene porque é tão difícil produzir e atuar. E ela respondeu...


"Vejo esse diferencial muito grande nos artistas de Brasília. Aqui o artista produz, ilumina, fotografa, desenha, vende, cenografa, etc., porém fácil nunca é e por isso tantos optam por não produzir quando estão em cena. Há sempre a sensação de olhar pra traz pra ver se está tudo certo sabe? Realmente não consigo e, por uma realidade financeira, venho há anos me exercitando muito mais na produção do que na atuação".


Fiz outra pergunta capciosa e ela não tardou a responder. Perguntei quais de seus trabalhos te davam mais orgulho. Ela foi direta:


"Todos. Tenho realmente uma defesa passional de minha trajetória curricular: Mulher, negra, pobre, sem formação acadêmica superior. Me dei a obrigação de trabalhar muito para aprender e para continuar a ter a coragem de viver de arte e cultura, escolha no mínimo arriscada em se tratando de como a cultura é vista e tratada a cada troca de governo".



E foram muitos os trabalhos de Suene. Tem a sua primeira encenação de rua com o mímico Miquéias Paz, a primeira Feira do Livro, onde ela arrumava as cadeiras do palco no salão central do Pátio Brasil Shopping, o receptivo do músico Jorge Aragão e sua banda, as horas acordadas acompanhando sambistas em apresentações na madrugada e o ótimo e bem visto Festival Magia Negra. Não para por aí... Ela ainda tem o sonho de fazer um musical.


Para além de tudo isso, ainda existe a Suene engajada pela causa animal. Volta e meia ela aparece com mais um cachorro de rua abandonado ou ferido. Ela é daquelas que resgata vítimas de atropelamento, leva ao veterinário, mobiliza ajudantes pelas redes sociais, até conseguir um novo lar para os bichos. No Festival Magia Negra, por exemplo a entrada do público era um saco de ração. Ela sempre dá um jeito de conciliar diferentes missões num mesmo projeto. Uma aula de vida. Por isso, esse é o momento ideal para falarmos de Suene Karim.


"Me orgulha muito ter sustentado a mim, a meu filho, pagado minhas contas, comprado meu carro, ter investido em cursos e oficinas. Me orgulha muito resgatar animais e ajudar amigos com o dinheiro do meu trabalho. É preciso pegar algo que você realmente tenha capacidade de fazer, porque para dar certo é trabalhoso e um tanto demorado, mas para dar errado é bem fácil e bem rápido".

SUENE KARIM

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