A PIKINEIA DE SEMPRE... MAS EM OUTROS CENÁRIOS
- Josuel Junior - Editoria
- há 6 dias
- 6 min de leitura
A drag queen que agita as noites da capital surpreendeu o público ao anunciar sua filiação ao PSOL para concorrer a uma das vagas da Câmara Legislativa em 2026. Nesta matéria exclusiva, ela conta tudo sobre essa importante decisão.

O Instagram nos diz que ela é uma artista drag queen, performer e produtora cultural. Os mais próximos dizem que é o Dennys, super antenado nos movimentos do universo pop e da representatividade... mas o Portal Conteúdo assegura: Pikineia é uma ideia, um conceito, um respiro de cor e alegria ao público do DF. Talvez por isso, o anúncio feito por ela na última semana tenha causado tanta comoção nas redes.
Ao lado dos deputados distritais Fábio Félix e Max Maciel, Pikineia anunciou sua filiação ao partido político PSOL, gerando a curiosidade geral dos seus mais de 100 mil seguidores, que foram pegos de surpresa com a notícia. É claro que o Portal Conteúdo fez questão de entender melhor essa história.
Pikineia trabalha na noite de Brasília desde 2013. Tornou-se conhecida do público do DF na boate Victoria Haus. No ano passado, levou para a rua o Bloco Baile da Piki, que nasceu dentro da boate em diferentes edições. Cerca de 400 pessoas assistiam fervorosas ao bloco antes dele migrar para a rua. Essa decisão de expandir o projeto se deu pelas provocações que a artista teve pós-pandemia.
"Eu e um grupo de amigos criamos o Instituto Pop Arte, pois tudo ficou muito difícil para o artista. As casas noturnas fecharam, os bares não tinham condições de pagar um cachê justo para os artistas. A ideia era tirar dessa ação o nosso ganha-pão mesmo e ajudar outros artistas independentes.", comenta.

Artistas independentes da noite vão muito além do que se possa imaginar. Estamos falando de dançarinos, drag queens, DJ's, performers, cantores, produtores, STAFF e toda uma cadeia diretamente afetada com os fechamentos dos espaços em decorrência da COVID-19. Por isso, enveredar por um caminho mais audacioso (o de levar o bloco Baile da Piki para as ruas), poderia ser algo bem arriscado, conforme pontua:
"Claro que eu tinha o medo de não dar um público grande. Eu trabalhava numa boate e, de repente, me vi em Águas Claras com o desafio de fazer algo que desse certo. Eu esperava umas 500 pessoas ao longo do dia, mas choveu. Só que mesmo com a chuva lotou. Isso me estimulou Fizemos com o 'Brilho Cor e Som' em Ceilândia, depois o 'Bloco Bilho Cor e Som', na rua do Lazer, gerando mais públicos e mais empregos. Depois surgiu outra ideia: 'O Piknik do Amor', que foi gerando públicos específicos, algo mais gostoso, leve. Depois veio a 'Micarê da Pik', que é um projeto que nasceu recentemente, sempre superando nossas espectativas."
O que Pikineia não conta nessas palavras é que ajudou a gerar empregos, autoestima, alegria e prazer em quem trabalha nos eventos e em que desfruta desses eventos - o público. As propostas, pouco a pouco, sairam do campo das ideias e migraram para a alegria das ruas, com multidões que viviam momentos de liberdade, festa e diversidade total pelo DF.
"Brasília é um local onde muita coisa gira em torno da política. Os próprios artistas precisam subsidiar seus projetos por meio de editais culturais do governo. Ou seja, é difícil dissociar o que é política ou não. Então, isso influencia muito no nosso fazer artístico. Eu, desde que acabou a pandemia, quero é circular. Vou pra Asa Sul, pra Ceilândia, Planaltina, Águas Claras. Eu vou, eu tento, eu experimento! Quando a gente mostra a nossa cara todo mundo entende e começa a querer ir também. Claro que tenho olhares voltados aos artistas da noite, mas sou da arte, sou artista. Vou ao teatro, vou a eventos, entendo o que está acontecendo porque não pertenço a nenhuma bolha. A arte é pra todos. Nos meus eventos, por exemplo, vão muitas famílias com crianças. Como não vou respeitar isso?"
E, de repente, Pikineia se filia a um partido político...

"Depois do bloco de rua 'Baile da Piki', senti necessidade de uma representação desse segmento na câmara. Aí brinquei e pensei: E se eu viesse como deputada? Fui estudando, analisando, refletindo e vi que é algo muito, muito sério. Uma responsabilidade imensa, mas o que me fez decidir seguir por esse caminho foi o fato de que quem gosta da Pik vai continuar gostando da Pik como ela é. Eu não vou deixar de ser quem eu sou, mas sei das responsabilidades que isso implica. Estou pensando em coisas maiores. No dia 09 de outubro fiz 40 anos e no dia 10 de outubro me filiei ao PSOL porque com eles eu senti paz. Senti o peso da responsabilidade e paz. Isso foi determinante para que eu escolhesse onde eu poderia estar."
Naturalmente, entre anunciar a decisão, Pikineia, ou melhor, Dennys Bernardo, pernambucano do município de Jatobá, se percebeu idadão e contribuinte de Brasília. Isso requer um conhecimeno de causa primordial para representar a população do DF na Câmara Legislativa.
"Quando se chega os 40, a gente realmente põe os pés no chão. Eu quero devolver para o Distrito Federal o que o Distrito Federal fez por mim. Eu fui acolhida, abraçada. Depois que perdi minha mãe, entendi que Brasília me acolheu. Cuidou de mim de verdade. A área artística me salvou. Se ela salva, cura, alimenta, coloca o pão na nossa mesa, nada mais justo que trabalhar pra ter o meu ganha-pão e gerar empregos pra tantas pessoas. Eu trago comigo uma garra, uma força que é do povo nordestino. Isso veio comigo, está comigo e permanecerá comigo. Essa garra eu nunca perdi."
A infância de Pikineia foi em Jatobá/PE. Era lá que sua criança viva, encontrando ludicidade onde desse. Antes de vir para Goiás na adolescência, mais propriamente no Jardim Ingá, sua criança tinha um desejo: SER PAQUITA...
"Até entender que eu não era menina. E eu entendi, mas o sonho não deixou de existir por isso. Eu me permiti sonhar.
Se permitiu sonhar a tal ponto que, em 2017, num show de Xuxa Meneghel no estádio Mané Garrincha, lá estava Pikineia, de farda com sua peruca loira ao som de "Tindolelê", "Doce Mel', "Marquei um X", e "É tão bom". A criança conseguiu! A criança foi Paquidrag e se sonhos sempre vêm pra quem sonhar (como diz a música), Pikineia sonhou alto e a realidade a colocou ali, na frente de uma nave espacial com pompons, farda típica e uma lua de cristal que encheu o peito de orgulho e satisfação. Toda a comunidade LGBTQIAPN+ agradece.

Queria ser uma paquidrag no show da Xuxa em Brasília, mas não fui selecionada. Dentre as selecionadas, estava a querida e icônica Alice Bombom. Alice não pode participar por motivos pessoais e eu fui escalada no lugar. Eu senti o palco onde a Xuxa pisou, eu fui, eu estive. A minha criança esteve lá. Minha mãe, que era uma mulher evangélica, religião que eu também frequentava, me disse um dia que eu seria uma pessoa que falaria com multidões. Acho que ela estava certa."
E estava mesmo. Pikineia fala com multidões. São 105 mil seguidores no instagram e toda a população do DF que saberá, em 2026, quais serão as propostas dessa artista que conquista importantes espaços a cada dia, a cada temporada, a cada bloco e a cada sorriso. Talvez Pikineia nem saiba, mas ela também é um patrimônio brasiliense. Patrimônio da diversão, do respeito à comunidade LGBTQIAPN+, da resistência do nordestino, da luta de quem tentou batalhar e prosperar na capital.
"Eu tenho 40, mas a criança ainda está aqui. Tenho muito a falar, tenho muito pra fazer. Por isso me coloquei nesse lugar. Eu sou uma artista, sou a Pikineia, mas sou o Denilson (de apelido Dennys). Não tenho vergonha de me expor sem a maquiagem, sem o figurino. Eu quero que me olhem com naturalidade. Quero que me conheçam, que sou um ser humano. Estou entrando na política, mas serei a mesma Pikineia. Tem uma seriedade, porém, nunca vou deixar de ser quem eu sou. A vida continua e a ideia é ser feliz".

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Josuel Junior | Portal Conteúdo
*A entrevista com Pikineia foi realizada no estúdio do fotógrafo Jessé Fontenele, em Samambaia, pois é na periferia que a poesia acontece.
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