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Josuel Junior - Editoria

VEJA PORQUE A NOVELA "DUAS CARAS", QUE RETORNA HOJE, É TÃO RUIM...

Esquecível trama de Aguinaldo Silva exibida em 2007 apresenta uma série de falhas de roteiro e direção, se tornando um mosaico de erros que jamais seriam perdoados caso a trama passasse na TV aberta nos dias de hoje: Achincalhe a bissexuais, machismo, misoginia e tramas frágeis são alguns exemplos.

Quando estreou em 2007, a novela "Duas Caras", assinada por Aguinaldo Silva, prometia ter uma linguagem ágil, moderna, com elenco de peso. O autor já havia errado a mão do meio para o fim de "Fina Estampa", questionável trama popular que foi reexibida ano passado em horário nobre. O título inicial seria "É a educação, estúpido", mas a direção da Globo achou a combinação de palavras complicada enquanto apelo popular.


Em suma, a história tinha dois enredos paralelos:


No primeiro, a história de Juvenaldo (André Luiz Frambach/ Dalton Vigh), que mora com a família em uma região pobre de Pernambuco e é vendido pelo pai ao forasteiro Hermógenes (Tarcísio Meira). Ele ganha o nome de Adalberto e aprende trapaças com o viajante. Adalberto presencia o acidente fatal de Waldemar (Fulvio Stefanini) e Gabriela (Bia Seidl). Ao vasculhar o carro, encontra pacotes de dólares, documentos e uma foto de Maria Paula (Marjorie Estiano), a filha única do casal, herdeira de um grande patrimônio. Disposto a aplicar o golpe, vai com os policiais para Passaredo. Após seduzir Maria Paula, ele se casa com ela por puro interesse e desaparece levando sua fortuna. O tempo passa, ele faz cirurgias plásticas e reaparece como o empresário de construções Marcone Ferraço, que já tem outra vítima em mente: Maria Silvia (Alline Moraes), a herdeira milionária do ramo da educação. É neste momento que começa a busca de vingança de Maria Paula... que não vai dar em nada (como explicarei logo mais).


O segundo enredo fala da comunidade da Portelinha, liderada por Juvenal Antena (Antonio Fagundes), que é o líder comunitário, comanda a região com autoridade e segundo seus próprios valores (Milícia, neh gente?!). Ex-segurança de obra da empresa de Marconi Ferraço, ele fundou a comunidade após pedir demissão e se unir a outros funcionários recém-desempregados e sem abrigo. Juvenal é protetor do jovem Evilásio (Lázaro Ramos), que cresceu como seu grande admirador. Ao longo da trama, Evilásio passa a discordar dos métodos e atitudes de seu padrinho Juvenal e os dois rompem relações, chegando a disputar a preferência do povo da Portelinha como candidatos à Câmara de Vereadores.


Pois bem... Paralela a esssa história, vem as tramas de Branca (Suzana Vieira), que após a morte do marido descobre que ele tinha outra companheira, Célia Maria (Renata Sorrah), mãe de Clarissa (Bárbara Borges), uma jovem que tentava prestar vestibular, mesmo lidando com sua dificuldade pela dislexia. Branca, que gere a universidade criada pelo marido por meios corruptos, passa a viver um embate contínuo com Célia Maria. Uma espécie de revival "tabajara" de Nazaré Tedesco e Maria do Carmo, de "Senhora do Destino" (2004). Só que dessa vez sem a menor liga.

Branca é mãe da desequilibrada Silvia (Alline Moraes), a nova vítima de Ferraço. Aliás, um dos papeis mais histriônicos da atriz na TV. Ela foi uma das precurssoras dos memes na era da internet. Uma atuação meio over, mas que marcou presença na história.


Aí tem também o núcleo de Alzira (Flavia Alessandra), que possui vida dupla. Ela se finge de enfermeira, mas trabalha como stripper por puro prazer e vocação sem que o marido Dorgival (Ângelo Antonio) saiba de nada. É essa a trama que mais rouba a novela. Por meses, o drama de Alzira ganha ares de protagonismo.

Bernardinho (Thiago Mendonça) é um jovem bissexual explorado pelo pai, Bernardo (Nuno Leal Maia) e a madrasta Amara (Mara Manzan). Eis o pior núcleo da novela que prestou o maior desserviço à comunidade LGBTQIA+. Certamente, hoje as cenas de achincalhe e ameaças psicológicas sofridas pelo rapaz seriam intoleráveis. Juro que não consigo entender como Aguinaldo Silva, sendo um homem gay, consegue desprestigiar tanto as personagens homossexuais e/ou bissexuais em suas novelas das últimas décadas. A personagem de Bernardinho vivia em situações vexatórias e humilhantes e isso nada servia como denúncia. Era apenas o jeito de levar o núcleo com requintes de crueldade em busca de humor. Chega a um ponto em que o rapaz sobre uma armação e é flagrado com Carlão (Luigui Plalhares) por pura armação da madrasta, que queria que a comunidade descobrisse que ele era bi... e aí do meio pro fim esse mesmo boy-lixo contratado para seduzir Bernardinho tenta conquistá-lo de verdade. Uma coisa muito mal contada.


É de se estranhar o fato de Aguinaldo Silva ter feito com tanta maestria as novelas "Tieta" (1989) e "Pedra sobre Pedra" (1992). Ambas falavam de homossexualidade de uma maneira positivista, progressista e digna através das personagens da própria Tieta (Betty Faria) em relação à sua amiga Ninete (Rogéria) e em "Pedra" com Adamastor (Pedro Paulo Rangel) que nutria uma paixão pelo amigo Carlão (Paulo Betti). Até em "Suave Veneno", com o vidente Walber (Diogo Vilela) e "Senhora do Destino" (com Milla Christtie e Bárbara Borges) o autor soube como apresentar de maneira interessante personagens gays.... mas de lá pra cá... puts. Só tem humor de achincalhe mesmo para com a comunidade.


O que foi certeiro nessas novelas anteriores se tornou absurdo com Crô (Marcelo Serrado) em "Fina Estampa" e Bernardinho em "Duas Caras". Foi apenas uma potencialização de como as personagens LGBTQIA+ agradam o público se forem humilhadas, ignoradas, usadas como objeto de humor, com ares de estupidez. Rir de gay era comum naquela época. É como se cada gay nessas novelas fossem a própria Geni, da música de Chico Buarque... Todo mundo "taca pedra na Geni porque ela gosta e apanhar e é feita pra cuspir"... Isso não tem como perdoar.


Por ter sido uma novela muito longa (210 capítulos), a história termina cansada, com repetição dos núcleos e histórias que vão e voltam. De fato, o embate de gata-e-rata de Suzana Vieira e Renata Sorrah ficou desinteressantíssimo. A própria paixão de Alzira por Juvenal Antena foi esfriando e até atores bons Marilia Pêra, José Wilker, Marilia Gabriela e Betty Faria foram subaproveirados.


Pra piorar, Wolf Maya, o diretor da novela, maaaais uma vez viveu uma personagem totalmente fora de contexto só pra marcar presença (algo comum na época). Ele deu vida a Geraldo Peixeiro, amigo de infância de Juvenal e dono da frota de vans que garante aos moradores da Portelinha transporte dia e noite.


Como tudo que pode piorar, piora.... Foi criado uma especie de novo Cadeirudo/Lobisomem na Portelinha. Era o personagem Sufocador de Piranhas. Veja bem... SUFOCADOR DE PIRANHAS. Outro desserviço que só estimula misoginia e o bendito patriacardo, dando uma lição de su-fo-ca-men-to em ex-dançarinas e nas mulheres da Portelinha em noites de lua-cheia. No último capítulo da trama, a identidade do tarado foi finalmente revelada, mas apenas para o público (mostrando que o machismo engendrado é disfarçado de "boa-praça"). Era o Peixeiro... que sequer é punido pelo ato de sufocar as vítimas para que aprendam a ter moral e bons costumes. Credo...

Lembra que no começo eu falei da vingança de Maria Paula para com Marcone Ferraço? Menino... ele começa a se arrepender de seus feitos, passa a sentir amor pelo filho que tem com ela após saber que ele sofreu um atentado pelas mãos de Silvia, a louca. A partir daí é Marjorie Estiano toda chorosa e confusa até o final. O boy-lixo e machinho-alfa de Dalton Vigh vai forçando a barra pra provar que é um moço de bem... E a heroína cai. Ela até esboça maldade, finge que é malvadona, mas no último capítulo o chama pra uma praia paradisíaca depois de dar um gelinho nele. Silvia, a vilã, depois de ser internada, foge e vai pra Europa, onde se casa com um homem rico. Branca e Maria Célia caem numa surra feeeeia de ver. Aí no final a briga vira gargalhada e descobrem que são, na verdade, super amigas e que juntas podem ser muito boas na administração da faculdade. Tudo raso... Raso, raso, raso.


Lembra do Bernardinho? Ele se casa com um rapaz e mantém também uma certa relação afetuosa com Dália (Leona Cavalle). Até aí ok... Só que o juiz de paz do cartório diz NA ÚLTIMA CENA DO CASAL, BEM NO ÚLTIMO CAPÍTULO: "Nunca vi tanta frescura num casamento!", afirmando ali, na cena derradeira, que, mais uma vez, a piada homofóbica precisava ser colocada para que o autor mantivesse sua veia irônica e ácida. Vergonhoso de ver.


É isso, caro leitor! Novela, quando é boa, a gente escreve, faz análise e recomenda pra que você assista. Agora, novela quando é ruim... a gente escreve também e não passa pano. Tem mais é que ir pro streaming porque reprise em canal aberto não dá mesmo.


"Duas Caras" está disponível na íntegra no catálogo da Globoplay pra quem quiser arriscar. Acredite... do capítulo 100 em diante você não vai mais aguentar acompanhar ela.


10 comentarios


Miembro desconocido
09 ene 2022

A novela é boa. Marília pêra, espetacular em sua atuação! Tô no capítulo 202 e tem partes sim, chatas, mas é você só você mesmo com o controle remoto e passar a frente e vê aquilo que melhor lhe interessa.

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Laudia Erica
Laudia Erica
24 nov 2021

Eu amei essa novela.

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Paula Tekila
Paula Tekila
17 nov 2021

A novela é ótima

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Não concordo, a novela é otimaaa, com memoráveis atuações, Aline Moraes dá um show e a história da vingança foi muito bem elaborada .

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