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QUATRO DIAS NO HOTEL DO CHAVES E CHAPOLIN EM ACAPULCO

Toda vez que alguém toca no assunto "Chaves e Chapolin" em rodas de conversa, o episódio de Acapulco vem à tona. Hoje, vou explicar como é estar no mesmo cenário onde foram gravadas sequências antológicas da série.

Tudo começou com uma viagem ao México para o Festival Internacional de Teatro ENTEPOLA, realizado na cidade de Águascalientes. Na ocasião, a companhia da qual eu fazia parte, a Fábrica de Teatro, foi convidada a levar meu solo de palhaço, "A dieta do Calango".


A peça já havia sido apresentada no Brasil, Chile, Peru, Argentina e Venezuela. Quando os organizadores do ENTEPOLA abriram uma franquia do projeto no México, por já conhecerem nosso trabalho, nos convidaram. Ou melhor... nos convovaram! O ano era 2014 e ir ao México era bem difícil, porém... mais fácil do que hoje.

Não me lembro bem dos valores, mas quando Tássia Aguiar, a produtora do espetáculo, e eu decidimos ir, a viagem a Acapulco já era algo certo. Afinal, México é a terra do Chaves e do Chapolin! Érika Guedes foi nos auxiliar no festival, mas não seguiu viagem para o litoral. Procurei o nome do hotel com outros fãs da internet que já haviam ido pra lá, liguei e mesmo com dificuldade no espanhol, pedi pra atendente reservar o quarto do Sr. Barriga e do Chaves. Ela riu, disse que não tinha certeza de qual era, pois em 40 anos o espaço passou por muitas reformas, mas nos garantiu que escolheria um com a vista mais próxima possível. 3 diárias (quatro dias) para 2 pessoas custou aproximadamente R$750,00 reais na época. Barato.

Acredito que as passagens para duas pessoas deram quase 4.500,00 reais. Compramos o trajeto Brasília - São Paulo - Panamá - Cidade do México - Águascalientes (nosso destino do festival) - Acapulco - Aguascalientes de novo - Cidade do México - Panamá - São Paulo - Brasília. Um trampo pesado que pediu muita disposição.


Em Aguascalientes, fizemos 4 sessões de "A Dieta do Calango" em diferentes locais do estado. Inauguramos duas salas de teatro, apresentamos em praça e em escola. Uma loucura! O Festival sempre proporciona ótimos reencontros e uma super imersão teatral.

Já no último dia do festival, começamos a fazer fotos comparando com frames do seriado. No avião, assistimos aos episódios e fomos vendo quais cenas valeriam a pena ser registradas 40 anos depois da exibição original. A ideia era fazer fotos e vídeos e publicarmos no Facebook para os amigos e familiares verem a aventura.


A caminho de Acapulco nos restava cerca de 1.000,00 reais. Pegamos um avião menor, desembarcamos num pequeno aeroporto e ficamos estarrecidos quando descobrimos que o táxi até o hotel Empório Acapulco custava quase 300,00 reais. Caminhamos no sol com malas pesadas até encontrarmos um ponto de vans clandestinas (e perigosíssimas). Fizemos duas baldeações e seguimos de táxi pirata até o hotel. A vista é linda... mata atlântica (embora virada pro pacífico). Lembrava muito o Rio de Janeiro.

Acapulco é uma baía.. Uma baía repleta de resorts virados para o mar e de costas para a avenida. É como se fosse uma grande copacabana. Cassinos, restaurantes e hotéis ocupam toda a extensão. De longe, vimos a fachada do Empório Acapulco e o coração quase saltou pela boca. O atendente retirou nossa bagagem do hotel e começamos nossa aventura! Estávamos exaustos, mortos, suados, destruídos, com fome, irritados e com medo de morrer, porém, quando abrimos o quarto tudo se converteu numa felicidade sem fim. Era tudo igual, lindo, moderno. Vibramos, bebemos, dançamos e choramos.

De banho tomado e mais calmos, decidimos ir ao mercado com nossos últimos 1.000 reais para fazer compras para quatro dias. Compramos coisas pra frigobar, pães, frios, sorvete, muitas frutas, água mineral, cerveja e miojo, muito miojo! Guardamos o resto da grana pra pagar drinks bonitos e voltarmos para o Brasil. Por sorte, fizemos amizade com um casal de mexicanos que nos presenteou com uma compota gigante de cerejas... Um luxo!


O que pude perceber é que a cidade em si, fora dos resorts, é muito pobre. São muitos os moradores locais que pedem esmola, que oferecem serviço de massagista, de carregador. É um choque cultural mesmo, como os que a gente conhece: Na orla, tudo lindo; de costas pra orla, a realidade bem dura.


As recepcionistas do hotel nos explicaram que o Empório Acapulco pertencia à Televisa, emissora responsável pela produção dos programas de Chesperito e que a gravação foi uma espécie de merchandising. Era um episódio de contrapartida, que iria promover o resort do próprio canal que, na época, em 1977, chamava-se Acapulco Continental. Há indícios de que seja um dos episódios de despedida de Carlos VIllagran, o Kiko... Por isso, a canção final "Buenas Noches, Vecindad" (Boa noite, vizinhança) foi composta. Era o Bolaños se despedido do companheiro de cena.


Para nosso espanto, o hotel era mesmo 5 estrelas e tinha de tudo. Não comemos nos restaurantes porque já tínhamos feito a feira pessoal. Muitas piscinas, sauna, jacuzi e o mar quentinho ali na nossa frente. Tomávamos banho, tirávamos foto... comíamos, bebíamos, mais fotos, mais banho... e assim foi por todo o tempo.


As fotos publicadas nas redes viralizaram sem nem a gente saber e quando voltamos para nossa saga de retorno ao Brasil, eu mal tive tempo de explicar à família como foi a viagem. Sites de cultura e entretenimento começaram a noticiar coisas do tipo "Brasileiros vão a Acapulco e reproduzem fotos do Chaves", "Atores de Brasília viajam para o México"...

Mal aproveitei a repercussão momentânea. Cheguei num dia e no outro já precisei pegar outro voo pro Espírito Santo. Eu estava gravando uma série do SESI e emendei uma viagem na outra. E foi nessa viagem, três dias depois, em 28 de novembro de 2014, saiu a notícia de que Roberto Bolaños, o criador de Chaves e Chapolin, havia morrido. Lembro que na van da equipe toda a produção ficou péssima com a notícia e até colocou músicas do Chaves pra tocar no som. Foi horrível! Eu senti muito mesmo, principalmente porque as notícias sobre nossa viagem estavam frescas e correndo pela internet. Claro... Não demorou muito para que emissoras de TV começassem a me ligar para agendarem entrevistas. Demos exclusividade ao SBT, mas Record e Band também produziram matérias conosco.


A ideia do SBT era fazer uma matéria especial para ser exibida no dia do velório em rede nacional. A equipe nos lembrou que, querendo ou não, fizemos a tag "Chaves e Chapolin" bombar nas redes por causa de nossa viagem e que isso, por si só, já era algo estupendo. Com a morte do Bolaños no meio dessa comoção sobre a viagem, seria inevitável não nos associar como a ÚLTIMA HOMENAGEM EM VIDA FEITA AO ARTISTA ROBERTO BOLAÑOS. Isso foi ar-re-ba-ta-dor. A equipe de reportagem gravou com Tássia em Brasília e comigo pela internet. Essa matéria, quando exibida, teve uma força tão grande que até hoje é comum eu estar conversando com alguém e, se o assunto Chaves entra na roda, vão falar de Acapulco e dos brasileiros que foram lá quando o Bolaños morreu. É curioso, pois sempre digo que sou eu um desses brasileiros. Na hora, a dúvida surge e quando mostro com orgulho os vídeos, todos ficam bobos. Tem sido assim desde 2014.

Eis uma experiência inesquecível e que dificilmente vai acontecer de novo. Desde então, muitos grupos de fãs, repórteres e admiradores do seriado fizeram a mesma viagem, mas com o encanto da nossa... dificilmente!


Confira as fotos e vídeos que repercutiram nas redes:

Boa Noite Vizinhança no mesmo lugar.

Foi sem querer, querendo!

Josuel Junior

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