Nas últimas semanas, um artista de São Paulo teve seu trabalho nacionalmente conhecido. Tudo com um misto de ousadia, crítica social, empoderamento e talento. Conheça o trabalho de Jefferson Corsi!
Ele tem 28, cresceu na Zona Leste da capital de São Paulo e já fez de tudo um pouco. Foi assistente do Burger King, ajudante geral, assistente de estilo e modelagem no mundo da moda, designer de estampas e passou a fazer tratamento e manipulação profissionais de imagens, tanto para ensaios fotográficos quanto para conteúdos de sites.
Com essas experiências, decidiu trabalhar por conta própria há três anos e começou um processo de expressão artística através de colagens digitais feitas no Photoshop. Passamos a ver suas criações através de buscas pelo Instagram referentes ao BBB. Quando vimos a arte do professor de geografia João Pedrosa, achamos muito interessante toda a concepção estética e a mensagem de empoderamento por trás da fotomontagem. Passeando pelo seu feed, constatamos que já conhecíamos a arte do menino João Pedro, da Thelma Assis, Isa Pena, Marielle Franco e tantas outras que falam de um Brasil contemporâneo sedento de arte e de resistência. Nos perguntamos: Quem é essa cara que faz tudo isso?! Stalkeamos, trocamos uma ideia e hoje falaremos com muito orgulho e admiração de Jefferson Corsi.
"Nasci e cresci na Zona leste da capital de São Paulo. Tenho origem de família humilde, sou filho de mãe nordestina e pai paulistano. Sou artista independente, sem formação nem especialização acadêmica. Comecei minha trajetória profissional aos 16 anos com a necessidade de ajudar minha família com os custos mensais. De lá pra cá atuei em diversas áreas", conta Jefferson
No campo da comunicação visual, Corsi tem uma pequena cartela de clientes que geralmente o procuravam para fazer criações e montagens gráficas. Esse ofício é hoje uma realização pessoal que o ajuda a pagar as contas do mês.
"Eu pesquiso sobre tudo! Consumo muito conteúdo artístico de todas as áreas. De uns anos pra cá, tenho procurado sempre aprender sobre política, questões sociais do nosso país, questões sobre mudanças climáticas e afins. São as coisas que eu acredito e que eu trago sempre pra minha arte", revela.
E traz mesmo! Uma passada por seu feed nos deixa admirados e reflexivos sobre a acidez de suas provocações de cunho social. Há uma linha estética que passeia pelo surrealismo, pela pop art e, claro, pela arte digital. Uma identidade visual muito característica que tem também relevantes críticas crises políticas.
"A estética da minha arte é uma mistura de tudo que eu fui e vivi, tudo o que sou e tudo o que vivo. Tudo pra mim pode servir de inspiração: a musica pop filmes, séries e cinema, animes, desenhos animados e cartoons, cultura brasileira, cultura ancestral africana, cultura ancestral indígena, e por ai vai... Tem de tudo um pouco. Acredito que nós os artistas criativos, não somos felizes se não estivermos criando algo, seja no photoshop, pintando, escrevendo, dançando. Todos nós vivemos em sintonia com a arte e a arte não só é importante pra quem cria, mas também pra quem aprecia, porque trás sorrisos, alegria, alivio, questionamento, ensinamento."
Sobre a atual situação de negligenciamento das artes no país, Jefferson aponta:
"Criar em quanto Brasileiro, sem duvidas é um grande desafio. Qualquer artista independente pode dizer o mesmo que eu. A cultura do nosso país nos ensina a não dar valor a arte e aos artistas. Aqui no Brasil ninguém respeita ou ninguém entende o quanto é duro fazer arte. Somos desvalorizados, somos associados a pessoas preguiçosas, pessoas 'fora do padrão profissional' imposto pela sociedade."
Recentemente, com a reflexão gerada através de um desabafo de João Pedrosa, participante de Big Brother Brasil que sofreu preconceito racial dentro do programa, Jefferson decidiu montar uma arte em cima de uma foto do professor. Uma montagem cheia de significados, principalmente por vir à tona na semana em que o público viu em rede nacional o choro cansado de um homem preto que, mais uma vez, teve que ouvir piada ofensiva disfarçada de ingenuidade.
Não deu outra... A fotomontagem teve mais de 18 mil curtidas e foi replicada por muita gente na internet. Seguidores conhecidos, desconhecidos, famosos e amigos se viam representados na arte e era possível ver nos stories de Jefferson sua animação quando alguém repostava seu trabalho. No domingo passado, inclusive, numa matéria sobre administradores de redes sociais dos participantes do Big Brother, o trabalho de Jefferson estava lá... exibido para milhões de brasileiros sintonizados no "Fantástico".
"Pra ser bem sincero, é um mix de sentimentos. No caso da arte do João, que teve uma repercussão muito grande, a princípio eu fiquei muito feliz e eufórico, afinal, é bom demais ser reconhecido pelo seu trabalho. Confesso que me gerou certa ansiedade, porque é muito louco ganhar mais de 7 mil seguidores em cerca de 48 horas. 7 mil pessoas! Eu pensava: Socorro, o que eu vou mostrar aqui no instagram pra toda essa galera?"
O interessante é que quem não conhecia o trabalho de Jefferson, passou a ver que ele faz muitas outras provocações através das artes e isso gera, cada vez mais, admiradores e potenciais parceiros. Obviamente, há quem ainda pense que internet é terra de ninguém. Discussões sobre direitos patrimoniais ainda estão engatinhando no que se refere ao uso de um produto artístico advindo das redes.
"A maioria das pessoas não enxerga que tudo à nossa volta é arte, absolutamente tudo. E é bem cansativo, porque a gente tem sempre que explicar para as pessoas que elas não podem copiar nossa arte, que não podem apagar a assinatura pra criar algo em cima, que precisam dar créditos, e muitas das vezes, quando questionamos isso, somos considerados chatos, malucos..."
Com a popularidade de suas criações, Corsi está aberto a novos trabalhos. A visibilidade é sempre bem-vinda, mas quem é artista sabe que nem só de visibilidade se vive. Mais clientes para criações autorais/personalizadas? Pergunto isso porque li em sua bio algo do tipo. O Instagram é uma vitrine, mas também é um cartão de visita para contratações, para elaboração de projetos e para estimular e fazer circular a economia criativa do país.
Curta, compartilhe, contrate e comprove... A arte brasileira produzida nas periferias é o sangue que pulsa nas veias do discurso poético, do discurso crítico e da reflexão das massas. Conheça o trabalho de Jeff Corsi, consuma o trabalho de Jeff Corsi e incentive tantos outros criadores que com uma tela de computador na mão e uma boa ideia na cabeça conseguem transformar nossa visão do mundo contemporâneo.
Salve Jeff!
"A arte tem que carregar consigo identidade, personalidade e uma estética singular, fazendo com que as pessoas se conectem com ela de uma maneira que as deixem curiosas pra conhecerem mais sobre a própria arte ou até mesmo sobre o artista por trás das criações"
JEFFERSON CORSI
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