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2023 - O ANO EM QUE DULCINA DE MORAES VOLTOU A SER NOTÍCIA

Neste ano, o nome de Dulcina de Moraes voltou à tona em diferentes ocasiões. No próximo domingo, o filme que fala de sua trajetória será exibido em sessão especial do Cine Brasília.

Dulcina de Moraes volta a ser notícia em 2023 - Divulgação

Figura sempre presente na mídia entre as décadas de 1940 e 1980, Dulcina de Moraes marcou seu nome na história do teatro brasileiro. Foi uma atriz ovacionada por gerações, lançou moda com seus figurinos glamourosos, auxiliou na formações de artistas e inaugurou diferentes teatros ao longo de sua carreira.


Com sua morte, no dia 28 de agosto de 1996, a Fundação Brasileira de Teatro, criada por ela e o marido e também artista Odilon Azevedo, passou por diferentes crises ao longo dos anos. Na época em que esteve doente, entre os anos de 1989 e 1996, Dulcina ficou reclusa em seu apartamento na 111 Sul, em Brasília. Isso fez com que ela saísse dos holofotes temporariamente. Com a notícia do falecimento, houve comoção entre a classe artística, mas logo depois as citações a respeito da artista ficaram relacionadas aos vários problemas enfrentados pelo Teatro e pela Faculdade Dulcina.


Em 2005, Francis Wilker e outros artistas da época criaram a Mostra Dulcina (evento semestral que produzia espetáculos diversos com alunos da instituição). A popularidade da mostra aumentou com o passar dos anos, chegando ao seu ápice de qualidade e investimento entre os anos de 2008 e 2010, período em que nomes como Luciana Amaral, Tiago Nery, Isadora Stepanski, Karita Pascollato, Ionara Silva, Josuel Junior e Laura Arruda participaram das equipes de produção. O evento ainda ganhou um anexo: o "Festival Dulcina de Cenas Curtas", que por três badaladas edições premiou os grupos vencedores.


Entre 2007 e 2009, exposições de arte em homenagem ao centenário de Dulcina ganharam galerias do Brasil. A primeira, "Dulcina, Sonhos Vestidos", realizada no Espaço Cultural do TCU, e "Eternamente Dulcina, uma vida dedicada ao teatro", realizada na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, marcaram o início das comemorações. Ainda em 2007, Sérgio Viotti lançou no próprio teatro do DF o livro "Dulcina e o Teatro de seu tempo", uma verdadeira pérola literária que conta detalhes da carreira da grande amiga e colega de cena, e Michelle Bastos lançou outro livro sobre a atriz: "Dulcina de Moraes - Memória do Teatro Brasileiro". O palco do Teatro Dulcina recebeu durante as comemorações do centenário Sérgio Mamberti, B. de Paiva e Marília Pêra numa recepção calorosa aos novos alunos dos cursos de arte.


O período parecia promissor. Espetáculos de alunos começaram a circular por Festivais de Teatro em países como Chile, Peru e Argentina por meio da incubadora cultural "Dulcina Parcerias Teatrais", bem como o lançamento da Editora do Dulcina, que numa parceria com André Amahro e seu Teatro Caleidoscópio publicou uma série de livros de autores e pesquisadores do DF.


Em 2011, Sérgio Maggio e Jones Abreu Schneider ajudaram a promover outro evento célebre na capital: "Mitos do Teatro Brasileiro", onde grandes nomes recebiam homenagens num ciclo de apresentações cênicas e palestras. Françoise Forton, Nicette Bruno e Luciana Martuchelli participaram do simpósio no CCBB Brasília.


Tempos depois, com o agravamento de mais uma crise de gestão, houve a intervenção do Ministério Público e todo um desdobramento de alunos, ex-alunos, sociedade civil e artistas na tentativa de reerguida do moral da institucional. Nomes como Pascoal da Conceição, Freddy Allan e Camila Pitanga chegaram a aparecer na FBT para unir forças no período que antecedeu a crise maior que estava por vir. Mesmo em período conturbado, ainda havia fôlego para tocar o barco. Por meio de uma parceria de sucesso, a 26ª Mostra Dulcina (2017) trouxe o primeiro grupo internacional (Kebebasan - Venezuela/ Argentina) para se apresentar no evento, que contou com alto nível de público nos 10 dias da produção.


FILME

Entre 2017 e 2019, a atriz, professora e diretora Glória Teixeira produziu um projeto audacioso: um longa metragem sobre a história de Dulcina de Moraes. O filme, que primeiramente se chamaria "Dulcina, Doce Sina", ganhou um título mais sucinto e que fez jus à dama do teatro brasileiro: "Dulcina", que contou com atores que tiveram relação direta com fundadora da FBT e com vários outros talentos de Brasília e do Brasil.


"Dulcina foi e continua sendo um ícone da cultura brasileira e merece todo nosso afeto. O evento é gratuito e aberto ao público", explica por meio de anúncio nas redes sociais Glória Teixeira, a organizadora do evento onde o filme será exibido. Confira o convite feito pela artista:

O longa é ao mesmo tempo um documentário e uma ficção poética, pois faz recortes de histórias contadas sobre a artista e documentos oficiais que remontam sua importância no cenário cultural. Estreou oficialmente na Mostra Brasília do "52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro" e, desde então, figurou por diferentes cinemas. Ele mescla imagens raras de arquivos, depoimentos de artistas e familiares, além de dramatizações. Seis atrizes se revezaram no papel de Dulcina: Françoise Forton; Bidô Galvão, Carmem Moretzsohn, Theresa Amayo, Iara Pietricovsky e a própria Glória Teixeira.


Fernanda Montenegro, Nicette Bruno, Emiliano Queiroz, Theresa Amayo, Françoise Forton, Murilo Rosa, Daisy Lúcidi , Ruth de Souza, Bidô Galvão, Carmem Moretzsohn, Tullio Guimarães, André Amaro, Luciana Martuchelli , Gê Martu, Graça Veloso e Tereza Padilha estão entre os artistas que fizeram parte desse importante projeto. Muitos outros nomes envolvidos com o Teatro e Faculdade Dulcina figuraram em diferentes fases da produção. Nas filmagens no Teatro Dulcina, alunos e ex-alunos participaram de cenas que reproduziam as aulas na faculdade brasiliense.


Agora, no ano em que se completam 27 anos sem Dulcina, o Cine Brasília exibirá a obra mais uma vez! Será no próximo domingo, dia 27 de agosto, a partir das 16h40. Além da exibição, haverá homenagens ao longo da programação.


ACERVO HISTÓRICO, DOCUMENTÁRIO E NOVO LIVRO

Com a abertura do acervo histórico da Fundação Brasileira de Teatro, o nome de Dulcina passou a ser mencionado recorrentemente em diferentes veículos de imprensa do país. Numa ação histórica, todo o acervo passou por um processo de inventário moderno, onde mais de 2500 fotos das décadas de 1910 e 1990 foram escaneadas e tratadas, mais de 500 figurinos das décadas de 1930 e 1980 fotografados, medidos, reparados e rearmazenados e cerca de 1000 objetos desembalados e digitalizados. Uma pesquisa histórico-teatral robusta, que tem como base os livros, revistas, documentos oficiais, documentos avulsos presentes no acervo, realização de entrevistas com artistas e familiares de Dulcina e as mais de 5 mil páginas de documentos cuidadosamente averiguadas. A pesquisa está sendo desenvolviva para futuros desdobramentos e para maior propriedade intelectual em prol do tombamento federal do patrimônio e da salvaguarda de uma parte da história teatral moderna.


A equipe conta com metodologia de pesquisa das museólogas Desiree Calvis e Letícia Amarante, que se voluntariaram na ação. Há também a contribuição da consultora de corte e costura Ana Maria da Silva, da designer de moda Tabatta Barcellos, do professor de moda Fernando Dermarchi, dos pesquisadores teatrais Roberto Sá e Gabriel Cabral e de voluntários que participam sazonalmente das etapas. O inventário tem coordenação do produtor Josuel Junior, que fala dos desafios diários:


"Uma das grandes dificuldades encontradas, além de trabalharmos por mais de um ano sem luz carregando e vestidos e mobílias pesados com lanternas, é a do não entendimento da sociedade e da própria comunidade artística a respeito do que é a Faculdade Dulcina e do que é o Teatro Dulcina. Muitas pessoas criticaram nosso trabalho dizendo que o mais importante, no momento, não é mexer com vestido e foto e sim, resolver apenas os problemas da faculdade. Porém, a faculdade é um braço veiculado à FBT e o Teatro Dulcina é outro braço da instituição. Como fui chamado para ser Diretor desse espaço cultural, tracei uma meta possível dentro de um ambiente, até então, sem energia: iniciar e finalizar, com louvor, um inventário físico e digital completo do acervo histórico para conseguirmos dar entrada no tombamento federal do local. Sem inventário, sem tombamento! São setores diferentes com diretores diferentes."


O trabalho tem o aval e supervisão da Comissão Permanente de Análise e Avaliação de Registro e Tombamento Cultural, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal. Para além do inventário, há todo um trabalho jurídico da atual gestão para identificar e sanar problemas gerados por administrações passadas. Um exemplo disso é a renegociação da energia elétrica com a Neoenergia. No útimo mês de agosto, a luz foi religada e, com isso, um mutirão de limpeza uniu artistas e entusiastas para que o teatro, que ainda não pode ser aberto ao público, voltasse a ter sua dignidade.

Ainda em agosto, o Canal Curta! lançou a série "Companhias do Teatro Brasileiro", dirigida por Roberto Bomtempo, e o segundo episódio é sobre a Companhia Dulcina-Odilon e faz um recorte primoroso da época de atuação da Cia (vigente entre as décadas de 1930 e 1960). A atração pode ser assistida nas reprises do canal ou por aluguel na plataforma que hospeda a programação do Curta!


"2023 foi muito importante para a FBT. Ver Dulcina de Moraes sendo citada positivamente nas mais diferentes mídias foi motivo de muita alegria e satisfação pra todos nós à frente desse trabalho. Nós percebemos que Dulcina vive no coração de cada um e, principalmente, no coração do teatro brasileiro. Viva Dulcina de Moraes!", celebra Gilberto Rios, presidente da Fundação Brasileira de Teatro.


Para setembro, a equipe do acervo pretende finalizar todo o inventário dos figurinos existentes. (70% do trabalho com o acervo têxtil já foram finalizados) e será também lançado um livro infantil sobre Dulcina de Moraes dentro da coleção "Mestres Cobogós", do Coletivo Literário Maria Cobogó, que já publicou edições sobre Glênio Bianchetti e Athos Bulcão. A ação é desenvolvida por Maria Mattos, Ana Maria Lopes, Marcia Zarur e Christiane Nóbrega com colaboração de pesquisa da Direção Cultural da FBT.


Inegavelmente, 2023 está sendo o ano em que Dulcina voltou a ser pauta!


ASSISTA AO FILME NO CINEMA

“Dulcina”, de Glória Teixeira

Domingo, dia 27 de agosto de 2023

Horário: 16h40 (sessão única)

Local: Cine Brasília – 106/107 Sul

Entrada Franca

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