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PRECISAMOS FALAR DE... RÔMULO MENDES

Ator (dos bons), cantor (dos bons), bailarino, dramaturgo, diretor e professor de teatro. Dono das caracterizações de personagens mais bacanas, ele é mais um desses colegas que fazem teatro a todo tempo e o tempo todo. Por isso, precisamos falar de Rômulo Mendes.

Ahhh, meu caro leitor... a gente pensa que sabe improvisar! Sim... a gente pensa! Até conhecer esse moço e entender o que é ter ritmo de improviso em cena.


Conheci Rômulo associando a imagem dele à da Cia. Neia e Nando. Talvez, por saber que ele sempre esteve envolvido em produções diversas da companhia teatral que mais produz espetáculos infantis em Brasília. Isso foi em meados de 2009. Tem algo curioso: Muitos atores que conheço e que passaram (e passam) pela Neia e Nando, são os atores que têm muita facilidade para decorar um texto teatral e de improvisar em cena... Acredito que isso aconteça pelo grande fluxo de trabalho que os profissionais têm para acompanhar o cronograma de apresentações.


Pois bem... o Rômulo que conheci sempre foi esse profissional atento, dedicado e que possui um nível de improviso refinado. A primeira experiência que tive com o ator, foi nos processos de ensaios do espetáculo "Dia de visita" (Dulcina Parcerias Teatrais e Fábrica de Teatro), que se passava numa prisão construída no subsolo do CONIC e que fez muito sucesso em Brasília entre 2009 e 2011. Devemos ao Rômulo uns 30% de toda a bilheteria, pois praticamente todo o elenco da Neia e Nando foi assistir às sessões. Era quase uma caravana pra vê-lo em cena. Pra nós, do elenco e produção, era ótimo, pois garantia a casa lotada (hehe). Sério... no final da peça parecia até que a Escola Parque da 308 Sul tinha mudado pro CONIC.

DIA DE VISITA - Acervo pessoal de Josuel Junior

Ainda sobre o "Dia de visita", há duas curiosidades ma-ra-vi-lho-sas que nunca me esquecerei: Na cena, dirigida por Francis Wilker e Nei Cirqueira, a personagem de Rômulo era a que apresentava o grande conflito da peça. Ele chegava em cena, era colocado dentro da cela com vários homens. Em determinado momento da peça, nós, atores, tínhamos que puxar sua roupa e rasgar a camiseta inteira. Nas primeiras apresentações, a gente machucou ele na hora de arrancar o figurino. Aí, ao final das primeiras sessões, ele veio indignado dizendo que não faria de novo se fosse assim (pois ao puxarmos a camiseta pra rasgá-la, com ele ainda vestido, ralamos muito seu pescoço e seus braços). Resultado disso? Este escritor que vos fala chegava bem cedo ao teatro para soltar com uma tesourinha ponto por ponto das camisetas ele iria usar em cena, com o intuito de rasgarmos ela com maior facilidade e não torar o pescoço do menino. Eram duas camisetas por dia (pois fazíamos sessão dupla). Teve um dia em que os pontos de costura foram todos tão bem tirados que na hora em que demos o primeiro puxão, ele já estava pelado... Pareceu até um videoclipe sexy. Essa cena sempre rendeu risadas do elenco após a peça.


A outra curiosidade é que havia uma outra cena muito violenta. Numa ocasião, jogamos o ator no chão, respeitando uma marcação cênica, e em seguida todos nós do elenco e o público tivemos um suspiro de espanto... Havia uma barata IMENSA, MORTA, ESMAGADA, ESCORRIDA e PREGADA entre o peito e a barriga de Rômulo. Provavelmente ela passou pelo cenário na hora em que o jogamos no chão. A nossa expressão era de perplexidade e vontade de tirar aquele inseto maligno antes de o público perceber. Não me lembro qual foi a solução que demos, mas sempre fecho os olhos e lembro da peça, vejo as patinhas do inseto.

Trabalhos Teatrais de Rômulo. Reprodução: Internet.

Cruzei teatralmente com ele em outras duas ocasiões... No espetáculo "O Inspetor Geral" (do Gogol), dirigido por Hugo Rodas, e em "Peter Pan para os já crescidos", dirigido por Luana Proença. Jogar em cena com ele sempre foi muito bom, justamente por esse inteligência cênico-espacial que ele tem, sempre pronto pra fazer comédia na hora e no erro certo.


Rômulo havia trabalhado com Andre Amaro e também é daquela geração que fez muito teatro com Plinio Mósca em Brasília. Dessa ninhada, por exemplo, temos aí os atores Jhony Gomantos, Érika Guedes, Leonardo Flores e Gleide Firmino... Uma galera boa que seguiu carreira por aí. As oficinas de Plinio culminavam sempre em espetáculos apresentados em teatros de Brasília e em festivais de teatro popular latino-americanos. Rômulo já tinha tido algumas experiências no Chile e foi uma das primeiras pessoas a me dar instruções sobre como ser um ator em terras estrangeiras.

Trabalhos Teatrais de Rômulo Mendes. Reprodução: Internet

Com trabalhos como ator ou arte-educador, o artista passou a dar também aulas de artes cênicas em escolas do DF, conciliando as atividades com apresentações de eventos, participação em ações da Caixa Cênica e gravações de campanhas e filmes. Em 2015 fundou o Grupo Poetizar - Coletivo Teatral. Entre 2016 e 2017 engatou firme em forte no campo dos espetáculos musicais. Em apenas dois anos, participou de "Domingo no parque - um passeio pelos musicais brasileiros", "Evil Dead - a comédia musical", "A família Adams - o musical", "Quem um dia irá dizer", "Agreste" e "Um Reles Potter". É, meus amigos... Seis espetáculos musicais em dois anos de trabalho não é pra qualquer um mesmo. Depois desse período, esteve em cena nas peças "Você me sente" e "Contos de Alcova", este último com direção de Mirian Virna.


Um dos projetos cativos do artista é "Mosaico do Amor", que contou com aulas de teatro para pessoas com Síndrome de Down.


"Foi uma experiência incrível. A questão da síndrome de down entrou em minha vida mesmo. Comecei a desenvolver essa pesquisa desde a época da minha monografia, Vários artistas de Brasília participaram desse projeto, que culminou num espetáculo patrocinado pelo FAC. Um super elenco com cerca de 30 pessoas no palco.", comenta.

Projeto Mosaico do Amor

Hoje, ele é professor na Escola de Teatro Musical de Brasília e tem trabalhado com dança contemporânea. Nesse período de quarentena, inclusive, tem aproveitado a quarentena pra assistir muita coisa da área da dança, já que muitas companhias do mundo inteiro disponibilizaram o material na internet. Aliás, ele não para de assistir peças em outros estados. Volta e meia vejo postagens dele em algum teatro do Brasil prestigiando diferentes obras. Recentemente, exercitou outro lado de seu trabalho numa viagem com o grupo S.A.I (Setor de Áreas Isoladas) para Nova Iorque. Lá, operou a luz do espetáculo "A Moscou! Um Palimpsesto".


"Viajar é uma das minhas prioridades. Sou muito viciado em assistir coisas. Eu gosto mesmo. Tento ir a São Paulo pelo menos uma vez por semestre. Nem é pra esbanjar, é investimento mesmo. Eu guardo dinheiro pra assistir espetáculos de fora. A experiência de Nova Iorque foi muito rica nesse sentido. Eu fui pra trabalhar com o S.A.I e ficamos em cartaz por quatro dias, mas fiquei duas semanas lá e assisti muita coisa, tanto da Broadway, que é muito deslumbrante, quanto de teatros pequenos... Teatros compatíveis com o que a gente faz em Brasília em tamanho de produção. Uma aula de teatro o tempo inteiro.".

Reprodução: Redes Sociais

Numa visita à minha casa, conversamos muito sobre amadurecimento, escolhas de trabalho, ritmo de vida e tudo que nos afeta e que muda esse nosso pique de fazer 10 mil coisas ao mesmo tempo. Uma das coisas que ouvi da boca de Rômulo e que muito me marcou foi: "Junior, a gente não é mais ninfeto. Agora os papéis são outros.". Ta aí... de certo modo, ele tem razão.


Se você não conhece, procure conhecer... É daquele ator dos bons mesmo!


Esta matéria foi originalmente publicada no site JosuelJunior.com. Agora, dois anos depois, ganha releitura no Portal Conteúdo. Para encerrar, aproveito o ensejo da publicação deste texto, para replicar uma de suas postagens nas redes sociais:


"Ser ator é poder pedir licença pra vida real e sorrir outros sorrisos... Chorar outras lágrimas... Viver outras vidas. Às vezes, um personagem é tão feliz que preferia nunca sair dele."

RÔMULO MENDES


É isso! Precisamos falar mais de Rômulo Mendes.

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