Cataclismas, misticismo, machismo, patriacardo... A novela mais curta da época moderna da TV foi exibida em 1996 e reprisada em rede nacional apenas em Brasília, no ano 2000.
As chamadas de "O Fim do Mundo" diziam que tratava-se de uma "super novela em 35 capítulos". Impressionava mesmo a qualidade técnica dos anúncios. Era algo diferente, que misturava uma imagem de novela rural de Dias Gomes com elementos tecnológicos ultra modernos. Mas, como diz Nilson Xavier em seu site, "de super a novela não tem nada".
"O Fim do Mundo" foi uma trama concebida para ser minissérie, mas como a produção de "O Rei do Gado", de Benedito Ruy Barbosa, contava com muito trabalho pela frente e a novela "Explode Coração", de Glória Perez, tinha que ser encerrada para que a autora pudesse se dedicar ao julgamento de sua filha Daniella Perez (assassinada em 1992), a Globo viveu um impasse: O que fazer entre uma trama e outra? A solução, claro, foi promover a história de Dias Gomes para o horário das 20h como uma espécie de novela tapa-buraco.
Até que funcionou a proposta. "O Fim do Mundo" não passou despercebida. Na história, Joãozinho de Dagmar (Paulo Betti) , tinha opositores que o acusavam de ser um charlatão, mas previsões certeiras atraíam prestígio, aliados poderosos e até fiéis em busca de curas. Por mais que muitos desconfiem da profecia de que o fim está próximo, acontecimentos inexplicáveis aumentam a credibilidade do protagonista e causam pânico na população local.
No entanto, a trama principal além dessa era meio chata. O fazendeiro Tião Socó (José Wilker) tinha uma empresa de plantação e fornecimento de tabaco (por isso a cidade de chama Tabacópolis). Por sofrer de impotência sexual, ele pede ajuda ao vidente para resolver seu probleminha. Enquanto isso, há um jogo sexual fortíssimo entre ele e a cunhada Gardênia (Bruna Lombardi). Paralelo a discursos beeeem machistas, a trama fica entre as piadas de cunho sexual e o medo da população em cima da profecia de Joãozinho.
Eis que nos capítulos 12, 13, 14, 15 e 16 a cidade começa a ter manifestações apocalípticas. Primeiro, nasce um bezerro de duas cabeças, depois os sinos de uma igreja sem sino começam a tocar e cai uma chuva de bosta (isso mesmo). A partir daí, o caos se instaura em Tabacópolis e a população enlouquece: Presos e loucos são liberados do cativeiro, mula sem cabeça passa pela rua, mudo começa a falar, o chão da cidade afunda após um terremoto, homenzinhos verder surgem e quem é virgem trata de perder a virgindade antes do mundo acabar.
Depois desses capílulos, que duram uma semana, tudo volta ao normal e a novela termina fraca, sem grandes acontecimentos relevantes. Há até uma cena interessante da castração de Rosalvo (Maurício Mattar), que movimenta um pouco a história, bem como o romance proibido entre o Frei Eusébio (Norton Nascimento) e Maria do Socorro (Tatiana Issa). Mas, no mais, a novela mistura muitos elementos: folclore brasileiro com aberrações biológicas, ufologia com sexologia, grutas místicas com elementos cristãos... Uma bagunça contada numa história rápida e sem muito aprofundamento. Terminou sem empolgação.
No elenco, nomes como Lima Duarte, Ângela Vieira, Otávio Augusto, Pedro Paulo Rangel, Vera Holtz e Tamara Taxman.
REPRISE EM BRASÍLIA
Como no Distrito Federal não há eleições municipais, por muitos anos o espaço dedicado às campanhas políticas obrigatórias foi preenchido com reprises de minisséries e novelas. "Escrava Isaura" (1976), "O Portador" (1991), "Sex Appeal" (1993) e "As noivas de Copacabana" (1992) já haviam sido reprisadas anteriormente entre o Jornal Nacional e a novela das oito. Até que em 2000 a emissora anunciou a volta de "O Fim do Mundo". A música da chamada era a mesma de 1996 - uma de ação bem forte. Assim, a edição especial passava antes de "Laços de Família" e totalmente cortada.
A edição das reprises em horário eleitoral era bem tosca e conseguiu o ápice da falta de qualidade em 2004 e 2008, com as reprises de "A Muralha" e "JK", respectivamente. Era um terror o nível de cortes abruptos. Isso porque a novela tinha dois blocos de 13 minutos, cada. No caso de "O Fim do Mundo", ela passou em 34 capítulos (isso porque estreou numa terça). Uma edição que cortava quase metade dos capítulos originais, que tinham uma média de 40 minutos em 1996.
Anos depois, a novela foi reexibida na íntegra no Canal Viva e agora está disponível no Globoplay.
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