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NOVO ÁLBUM DE SIMONE IMPRESSIONA PELA AUTENTICIDADE

Após nove anos sem lançar um álbum completo, Simone surpreende com o ótimo e vivaz "Da Gente", que revela a maturidade da artista em meio a tempos sombrios nas artes.

Arte sobre fotos de Nana Moraes e Still de videoclipe

Com direção de Juliano Holanda e Zélia Duncan, cantora abusa da autenticidade e ousadia num disco com a cara de 2022.

Aos 72 anos de vida e 49 de carreira, Simone fez no novo álbum o que um de seus maiores sucessos já ecoou no passado: "Que venha uma nova mulher de dentro de mim", verso da icônica "Uma Nova Mulher", de 1989, que poderia falar da própria artista sobre a decisão de montar um álbum completo forte e corajoso na década atual. Não que ela tenha ficado escondida nos últimos tempos. Simone, pelo contrário, sempre esteve presente e reverenciada por antigos e novos fãs, inclusive no período das lives. Porém, com o lançamento de "Da Gente", um refinamento a mais consolida a carreira da mulher que viveu um passado glorioso na gravadora Odeon, onde, de 1973 a 1980, apresentou antológicos álbuns geridos pela densidade da MPB da época. Obviamente, a artista nunca deixou de produzir. Dos anos 1900 às primeiras décadas de 2000 ela sempre lançou hits que caíram no gosto popular.

Com 12 faixas, Da gente é disco pautado tanto pela direção artística de Zélia Duncan quanto pela direção musical do pernambucano Juliano Holanda, de quem Zélia se tornou parceira nos últimos anos. Amores, encontros e reflexões sobre os dias de hoje, em que começamos a retomar o contato pessoal com quem amamos, dão o tom do disco.


“A vida sem os afetos não vale a pena. O que me salvou na pandemia foi o lado afetivo, o que veio de mim e o que veio pra mim. Espero que “Da gente” cumpra uma rota sentimental que faz falta nos nossos dias, do coletivo, do grupo, da amizade, da confiança”, conta Simone.


A ideia de fazer um disco apenas com canções de autores nordestinos vem de 2015, porém, o plano ficou em suspenso em meio à agenda de shows, mas em 2021, Zélia Duncan disse à amiga que ela precisava conhecer uma pessoa: Juliano Holanda, compositor, diretor e produtor pernambucano que vem se destacando na cena contemporânea da música brasileira.


A partir daí, o disco foi tomando forma, com Zélia na direção artística e Juliano assumindo o posto de diretor e produtor musical. As primeiras conversas entre os três foram virtuais e aos poucos o repertório foi sendo montado, sem preocupação com ineditismos. Boa parte das canções escolhidas são de autores contemporâneos, a maioria deles mulheres. Além disso, a sonoridade do álbum também traz uma novidade: não há piano ou teclados, instrumentos que estão presentes em toda sua discografia.


Em “Da Gente”, Simone foi acompanhada por Holanda (baixo e violão de aço), Webster Santos (violões) e Rapha B (bateria, udu, clave e ganzá). “Durante a gravação eu percebi que o piano não estava me fazendo falta. Os músicos me cercaram musicalmente de uma maneira muito forte”, diz Simone, ressaltando que o entrosamento entre todos foi fundamental para o bom andamento dos trabalhos.


O período de permanência no estúdio da Biscoito Fino foi de apenas 10 dias, em agosto de 2021. Aliás, “Haja Terapia”, música de Juliano, foi escolhida para abrir o disco. É um retrato desses tempos pandêmicos em que o mundo parece ter parado.


Sobre a musica, Simone explica que “Haja Terapia” chamou muito sua atenção:


"Não só pelo fator pandemia que a gente ainda está vivendo, mas porque, além de tudo, a música é muito bonita. Ela, surpreendentemente, cria imagens fantásticas. Fiquei impactada e muito emocionada. Quando você fatia o tempo nas terapias, vê também o tempo das coisas. E acho que ele correu mais a favor e de forma íntima para me ajudar a botar os meus demônios para fora”.


Juliano também fez, com Zélia, o xote estilizado “Boca em Brasa”, cujo mote foi ideia de Simone. Os parceiros fizeram uma música forte sobre o desejo, característica que também está presente em “Por Que Você Não Vem”, de Joana Terra e PC Silva. “A Joana estava na casa do Juliano durante uma reunião virtual nossa e cantou essa música”, conta Simone sobre a canção cujo eu-lírico convida o par para uma aproximação. PC ainda assina sozinho Imã, de acento folk, uma súplica pela volta da pessoa amada.


A obra de Martins e Isabela Moraes, dois pernambucanos, já estava no radar de Simone há algum tempo. Dele, a cantora escolheu “A Gente se Aproveita”, de interpretação delicada. Já Você Distante, de Moraes, é um xote que mostra como, “às vezes, para evitar a confusão, melhor é a separação”. Apesar de nascida na Bahia, Karina Buhr foi criada em Pernambuco e também está presente no álbum como autora. Amor Brando, que ela gravou em 2012, ganhou uma festiva leitura de Simone, com toques de afoxé.


“É uma graça essa música. Mas a gravação da Karina é muito diferente da que a gente fez. Houve o trabalho de achar um caminho que fosse confortável para eu cantar”, conta.


Para “Escancarada”, de Gean Ramos (pernambucano descendente do povo Pankararu) e Rogéria Dera, Simone optou por uma interpretação mais expansiva e adequada à canção. Por fim, para encerrar o disco, escolheu “Naturalmente”, parceria da paraibana Socorro Lira com Roberto Tranjan, da qual a cantora tirou o título do disco, uma música que fala sobre tudo o que é essencial para o bem-estar coletivo.


Mas “Da Gente” também conta com canções de autores da geração de Simone. Ela ouviu o disco que Fagner e Zeca Baleiro fizeram em 2003 e de lá pescou “Dezembros”, assinada pelos dois com o letrista Fausto Nilo (autor de grandes sucessos da carreira de Simone, como Um Desejo Só Não Basta e Pão e Poesia). Apesar de escrita há 20 anos, a música ganha novo significado por falar de distância e de “ver a morte assim tão perto”.


Já “Estilhaços”, de Cátia de França e Flávio Nascimento, intitulou o segundo álbum da compositora paraibana, de 1980, e é um dos momentos mais alegres do disco. Afinal, os estilhaços aqui são de amor.


“Da Gente” o pontapé inicial nas comemorações dos 50 anos de carreira de Simone, em março de 2023.


“Espero fazer shows, estou há mais de dois anos sem pisar no palco”, afirma a cantora, ansiosa por um reencontro presencial com o público. Afinal, ela sempre foi uma cantora da gente. Do povo brasileiro.

REPERTÓRIO NOVO ÁLBUM DE SIMONE

  1. Haja Terapia (Juliano Holanda)

  2. Boca em Brasa (Zélia Duncan e Juliano Holanda)

  3. Nua (Simone/Tiago Torres da Silva)

  4. Estilhaços (Cátia de França/Flávio Nascimento)

  5. A Gente se Aproveita (Martins)

  6. Por Que Você Não Vem? (Joana Terra/ PC Silva)

  7. Escancarada (Gean Ramos/Rogéria Dera)

  8. Dezembros (Fagner/Zeca Baleiro/Fausto Nilo)

  9. Você Distante (Isabela Moraes)

  10. Imã (PC Silva)

  11. Amor Brando (Karina Buhr)

  12. Naturalmente (Socorro Lira/Roberto Tranjan)


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