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Josuel Junior - Editoria

MOSTRA DULCINA E UMA RENOVAÇÃO ACADÊMICA

As duas edições da Mostra Dulcina realizadas no ano de 2010 inovaram com a contratação de novos professores. Hugo Rodas, Rodrigo Fischer e Jonathan Andrade agitaram os palcos com os estudantes.

No ano de 2010 a injeção financeira na instituição chegou em seu melhor momento. As contratações de Hugo Rodas, Rodrigo Fischer e Jonathan Andrade movimentaram os corredores da Faculdade Dulcina e deram novo fôlego aos estudantes em formação. A exemplo da edição anterior, o projeto Dulcina Parcerias Teatrais continuou incentivando novas obras que se destacavam para que pudessem seguir temporadas independentes. Duas obras de turmas de licenciatura que surgiram na Mostra como exercício cênico se profissionalizaram e seguiram para festivais no Brasil e na América Latina. Elas tinham direção dos então estudantes Rafael Soul e Jhony Gomantos. No Bacharelado, destaque para a atuação de atores e atrizes que hoje seguem carreira pelo país. Foi um dos períodos de glória da instituição!


11ª MOSTRA DULCINA


Seis espetáculos teatrais, uma exposição de artes visuais, um exercício da turma de música e 17 cenas curtas fizeram parte da décima primeira edição da Mostra Dulcina, realizada no primeiro semestre de 2010. A comissão organizadora era formada por Lúcia Andrade, Augusto Brandão e Francis Wilker. Na equipe de produção Glauber Coradesqui, Ionara Silva e Celeste Silva. Dando assistência de maneira indireta na edição, este editor que vos escreve. Para a edição, foram contratados os fotógrafos Diego Bresani e Thiago Sabino para a divulgação e registro das atrações.


A 11ª Mostra surgiu em meio à emoção da Copa do Mundo. Enquanto o país estava mobilizado pela expectativa do hexacampeonato, as suspensões das aulas e atividades comerciais não se aplicaram totalmente a quem fazia arte... Foi nesse período em que os estudantes ensaiaram mais e mais, com exceção dos dias de jogo da seleção brasileira, claro. Um dos destaques foi a o resultado final da disciplina Direção Teatral I, que lançou cenas curtas que chamaram a atenção do público. Manoel de Barros, Nelson Rodrigues, Luigi Pirandello, Naum Alves e Alcione Araújo foram alguns dos autores que serviram de inspiração para o trabalho das turmas na ocasião.


Abrindo a Mostra, uma performance com a atriz e aluna da FADM Natália Tolentino com texto inspirado no clássico Tia Mame, de Jerome Lawrence e Robert Lee. A direção e adaptação do texto ficou a cargo de Sheila Aragão.

O primeiro espetáculo foi "Memórias Inventadas", texto de Manoel de Barros com direção de Fernando Guimarães. Na obra, personagens dos mais diversos segmentos se encontram num Clube de Leitura compartilhando uma paixão em comum: a paixão pelos escritos de Manoel de Barros. Os diretores ficaram responsáveis também pelo espetáculo "Nada", outra livre adaptação de obras de Manoel de Barros; "Anjo Negro", com direção inicial de Cyntia Carla e direção final de Glauber Coradesqui, apresentou o polêmico texto de Nelson Rodrigues, uma peça que hoje certamente não seria bem recebida pelo público brasileiro por apresentar uma visão negativista e de preconceito racial autorreferencial. Por se tratar de uma experimentação acadêmica, atores brancos e negros se revezavam numa espécie de coringamento refinado e bem arquitetado por Glauber. Certamente, hoje a escolha de atores brancos dando vida a um papel exclusivamente de pessoa negra geraria intensa discussão. Os tempos eram outros...


"Aurora da minha vida" marcou a estreia do diretor Jonathan Andrade na Faculdade Dulcina e apresentou uma versão interessantíssima do texto de Naum Alves de Souza. A peça satirizava diversas situações do cotidiano da escola e retratava um universo educacional conservador, colocando uma lupa nas relações humanas e situações de opressão. A peça revelou nomes como Jeferson Alves, Mario Luz e Magno Garrido. Destaque para Flavio Monteiro, que esteve num de seus melhores momentos nos palcos da faculdade com uma atuação emocionante; "Caravana da Ilusão" foi um exercício cênico desenvolvido a partir do texto homônimo de Alcione Araújo. Dirigida por Nei Cirqueira, a obra mostrava um grupo de artistas e suas ilusões sobre o sonho de encantar o mundo com a arte.

Já os exercícios da disciplina de Direção Teatral culminaram na coletânea de cenas curtas "Poéticas do Inacabado", que trazia experimentos cênicos dos estudantes da disciplina em diferentes locais da faculdade. Com orientação de Francis Wilker, as apresentações eram itinerantes e o público precisava se adaptar a cada nova proposta. Das 17 cenas curtas apresentadas, duas tiveram destaque e se transformaram em espetáculos curtos que seguiram temporadas fora da faculdade. "E quando vem a lucidez", dirigida por Rafael Soul, investigava a solidão de de um bêbado e uma prostituta num banheiro público. Incorporada ao repertório da Cia. Fábrica de Teatro, a cena foi apresentada em banheiros públicos e/ou coletivos em festivais e temporadas nacionais, em Brasília e no Espírito Santo, e internacionais, em países como Chile, Peru e Argentina, sempre com boa recepção por parte do público; A outra cena que ganhou os palcos foi "Primeiro Quadro", dirigida por Jhony Gomantos. A cena curta investigava o universo das obras Frida Kahlo, transformando imagens em cenas. Convertida num formato maior na edição seguinte da mostra e com novas estações, a peça seguiu temporada em festivais do Chile, comprovando a força da produção acadêmica dos estudantes do Dulcina.


Encerrando a mostra, a demonstração e trabalho "Ressonâncias", do professor de música Daniel Pitanga, e a exposição de artes visuais "Transições", com curadoria de João Angelini, GUstavo Magalhães e Luciana Paiva.


12ª MOSTRA DULCINA


A décima segunda Mostra tinha um ar diferente. O professor Hugo Rodas, que lecionou por anos na UnB, entrou para o time pedagógico da Faculdade Dulcina. Na época, isso causou forte comoção, tanto na UnB, quanto no Dulcina. Ter os diretores Fernando Guimarães e Hugo Rodas na mesma instituição era, de acordo com brincadeira dos alunos, como se Gugu e Faustão trabalhassem no mesmo canal. Havia um ar de renovação e inovação na instituição. Nove espetáculos de estudantes, um lançamento de livro, uma performance, duas oficinas e 10 cenas curtas fizeram parte da programação. A abertura não-oficial do evento se deu com a reapresentação de "Dia de Visita" no subsolo do Teatro Dulcina. A peça havia surgido na 10ª edição da Mostra e estava entrando em processo de temporadas por Brasília. Outras duas obras foram reapresentadas, dessa vez, dentro da programação oficial: "Aurora da minha vida", com novo elenco, e "Sentimento Só", versão estendida da cena curta "Primeiro Quadro, da edição anterior. A comissão organizadora foi assinada por Lúcia Andrade, Augusto Brandão, Jonathan Andrade e Átila Regiani. A produção geral ficou a cargo de Josuel Junior e a produção operacional contou com Carol Esteves, Celeste Silva, Chris Cysneiros, Ionara Silva, Jeferson Alves e Mário Luz. A exposição de artes visuais da mostra teve curadoria de Marcus Lontra, Renato Palumbo e Átila Regiane e a criação da belíssima identidade visual ficou a cargo de Thiago Sabino.

A abertura da mostra se deu com o Lançamento do Livro "Não vou mais lavar os pratos", da atriz e escritora Cristiane Sobral, que havia dirigido a Faculdade Dulcina anos antes. No mesmo período, oficinas de atuação com Sulian Princivalli e Mônica Mello foram oferecidas à comunidade acadêmica. Abrindo os espetáculos da programação, "Chá e Cianureto", livre adaptação de "Arsênico e Alfazema", de Joseph Kesselring, dirigida por Fernando Guimarães. A peça contou com estudantes da disciplina Montagem I, do bacharelado, e atores convidados; Silvia Paes ficou com a direção de "O Eixo Estremece", um exercício cênico de Teatro do Oprimido em que o público opinava sobre as resoluções para as situações de abuso retratadas pelos estudantes; Rodrigo Fischer estreou numa curiosa e divertida montagem intitulada "Atores Patéticos em busca de histórias poéticas". Era uma espécie de junção de cenas do universo teatral em formato de chanchada descarada e assumidamente nonsense. Quem viu, certamente se lembra do estudante e ator Jhony Gomantos imitando Renata Sorrah nos papéis da alcoólatra Heleninha Roitman e Nazaré Tedesco.

O professor Jonathan Andrade dirigiu "Gota d'água", livre adaptação da obra de Chico Buarque. Na construção corajosa do universo da peça, as cenas que compunham o primeiro ato da tragédia brasileira desafiavam os estudantes-atores. Foi uma peça bem diferente e visualmente impactante; O estudante Ricardo Barbosa, sob orientação de Ricardo Guti, dirigiu "Amor por Anexins", inspirado na obra de Arthur de Azevedo; Fernando Guimarães assinou também a direção de "Noite de emboscada", livre adaptação de "Bodas de Sangue", de Federico Garcia Lorca, com a turma de licenciatura.


Ainda no primeiro bloco de apresentações, a versão estendida da cena curta "Primeiro Quadro", rebatizada como "Sentimento Só". A obra, inspirada no imaginário de Frida Kahlo, apresentou novas visões e fragmentos poéticos sob direção de Jhony Gomantos e foi incorporada ao grupo Teatro In (provisório), que meses depois adaptou a peça para sessão especial no Festival Entepola Chile;

A chegada de Hugo Rodas levantou comentários e especulações sobre sua primeira peça com estudantes do Dulcina. A expectativa era grande e o texto escolhido foi "O Inspetor Geral", texto de Nicolai Gogol que escancara os modelos de corrupção de uma cidade russa (brasileira). Os olhos estavam voltados para essa turma e o processo foi longo (e difícil). Hugo Rodas fez uma espécie de pout-porri de outras montagens assinadas por ele e desenhou um cenário de difícil operacionalização que contou com praticáveis retráteis gigantes, onde os atores construíam ambientações de uma cidade que se ajustava de acordo com a conveniência. O investimento foi grande. No elenco, nomes que seguiram na ativa no teatro, como Pedro Ribeiro, Rafael Soul, Josuel Junior, Ricardo Brunswick e Rômulo Mendes; Encerrando o bloco de espetáculos, outra peça que ganhou nova versão: "A Aurora da minha vida", dirigida por Jonathan Andrade, teve algumas modificações no elenco e na estrutura e foi novamente bem recepcionada pelo público.


Das 10 cenas curtas apresentadas pelos estudantes de Direção Teatral sob orientação de Bárbara Tavares, destaque para "Aonde", dirigida por Ingrid Soares e tendo em cena Janaína Félix e Larissa Calixto e "Quem dará o veredito", dirigida por Guilherme Monteiro com Sami Maia e Jeferson Alves. A primeira foi baseada na "Valsa nº 6", de Nelson Rodrigues, e a segunda em textos de Gero Camilo.

Durante quase toda a mostra, a Performance 1'30'' recepcionou o público com coreografias de estudantes sob a orientação da professora Lívia Bennet.


Esta matéria conta com dados bibliográficos dos livretos da 11ª e 12ª Mostras Dulcina, bem como acervo pessoal do autor.

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