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HOMENS EM CARVÃO - PROJETO REFLETE SOBRE A MASCULINIDADE

Um projeto tem chamado a atenção ao apresentar ilustrações de homens através da técnica do carvão. Diversidade, questionamentos e poesia. Conheça o "Artbook - Men in Charcoal".


Tudo começou quando um moço chamado Wilton Oliveira, ou melhor... Will, sentiu a necessidade de entrar no curso de arquitetura de uma universidade pública. Ele é formado em Engenharia de Materiais pela Universidade Federal do ABC, tem algumas experiências na área e até pouco tempo trabalhava numa das secretarias da prefeitura de São Paulo. Meses atrás, Will pediu exoneração para realizar o desejo latente do cursar arquitetura... O curso seria no estado da Bahia.


Com apenas duas semanas de início do curso, surgiu a pandemia e o tempo "livre" que a quarentena nos obrigou a ter. Enquanto as aulas do curso não recomeçam, Will, de volta a São Paulo, deu início a um projeto que já estava há tempos em sua mente: Mostrar a diversidade de corpos masculinos através de desenhos em carvão. Autodidata, ele já fez curso de desenho e participou de oficinas de modelo vivo. Com o tempo, foi aperfeiçoando a técnica e imprimindo sua marca.


"A princípio, seriam apenas desenhos pra representar a diversidade de corpos masculinos, porém vi uma provocação do Paulo Vaz nas redes sociais, que é um homem trans, sobre o que é ser um homem e entendi que encaixava muito no projeto. Assim, junto com o desenho, é inserida uma definição pessoal de cada modelo sobre o que significa ser homem na sociedade atual", pontua.


O que é ser homem? É possível classificar o indivíduo a partir de uma única resposta? O que é ser um homem negro? O que é ser um homem trans? O “ARTBOOK – Men in Charcoal” é um livro de arte/protesto. Uma tentativa de desconstruir o padrão do que o que é ser homem nos tempos atuais. Mais do que mostrar a diversidade de corpos através de uma série de desenhos de homens nus (ou não) feitos em carvão, o livro vai contar com o depoimento de cada modelo participante


O projeto ganhou força nas redes, revelando a intimidade e a diversidade desses homens. São sujeitos brancos, pretos, cis, trans, gordos, magros, atléticos, afeminados ou masculinizados. Eles ensinam significados do que é ser homem.


"É fascinante essa troca, essa confiança e carinho dos modelos com todo esse nosso projeto. Para mim, certamente este é um projeto que me desafia como artista. Afinal, o trabalho de retratar a riqueza e a originalidade de cada resposta tem exigido de mim muita energia e dedicação. É tanto prazerosa quanto exaustiva a tarefa de traduzir toda essa intensidade em uma folha de papel A2 e um carvão na mão."


Até o final de julho todo esse projeto será lançado na plataforma @catarse para que a produção e envio do ArtBook sejam garantidos.


Porque homens e porque o carvão?


"Me assumi como gay, para mim e para a sociedade, há pouco tempo. Sempre gostei de desenhar, e lembro de disfarçar a sexualidade tentando reproduzir a figura de mulheres (afinal desenhar mulher é coisa de macho! Risos). Penso que desenhar apenas homens nesse projeto é uma forma de protesto e de compensação do tempo em que eu vivia reprimido. Amo forte o borrado que fica no final do desenho e da possibilidade de ir corrigindo aos poucos. Quando desenho com o carvão, literalmente, deixo minha marca em cada trabalho", reforça o artista.


Como foi o processo de seleção dos modelos?

O projeto teria inicialmente 50 modelos homens voluntários. Foi realizado uma chamada aberta em vídeo pelo Instagram. A chamada durou todo o mês de abril e contou com 85 inscrições. Houve uma dificuldade inicial em encontrar modelos com diferentes biotipos. Para manter a diversidade no projeto, alguns modelos foram convidados diretamente., como é o caso de Danilo Tupinikim (@danilotupinikim) que é indígena, e do Thiago Bento (@bento.tiagoa), que é um homem negro.


A nudez não é obrigatória no projeto. Porém, mostrar o corpo nu é mais interessante porque dialoga com a ideia de desconstrução dos padrões e do conservadorismo. O próprio ilustrador já foi desenhado nu por outros artistas nos projetos “Com a cabeça ocupada”, de Fabio Lopes (@oflopes), e “Les Garçons Bleus”, de Francisco Bianchi. Essa experiência em também se expor faz todo o diferencial quando se retrata a nudez e a fragilidade alheia.


A ideia é terminar as ilustrações até metade de julho desse ano. Na sequência, será feito o lançamento oficial do @catarse. A estimativa é que o Artbook fique pronto no final de setembro. Futuramente, haverá também o projeto “Mulheres em carvão” com a mesma proposta e com a mesma provocação: “o que significa ser mulher para você?”


"Sempre gostei da ideia de ser eternizado através de uma arte. Acho lindo quem aceita ser representado e quem se doa, através do seu tempo, para representar outra pessoa. Entendo que o corpo nu é um corpo político e uma forma de protesto. Convido a todes (com “e” mesmo) para debaterem comigo questões relacionadas ao gênero, raça, sexualidade e diversidade do corpo.", finaliza Will.

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