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DO JORNALISMO PARA O ENTRETENIMENTO: SAIBA MAIS SOBRE VIRGÍLIO SILVA, UM DOS AUTORES DE "TRÊS GRAÇAS"

Contar histórias é um dom... mas um dom que requer estudo, poesia, tempo e muita paciência. Confira a entrevista exclusiva do jornalista e autor Virgílio Silva ao Portal Conteúdo.

Virgílio Silva - Arte sobre imagens da Globo | Estebam Avellar
Virgílio Silva - Arte sobre imagens da Globo | Estebam Avellar

Formado em jornalismo, Virgílio Silva tem passagens por telejornais do SBT e da Globo Brasília. Foi repórter, editor e um eterno amante de histórias, desde a informação factual nas rotinas das redações às licenças poéticas e narrativas da dramaturgia.


Ao longo dos anos, o jornalista-autor contribuiu na construção de obras da televisão e do cinema, aliando o que as bagagens desses dois segmentos poderiam proporcionar. Em ambas as áreas o foco era o mesmo: comunicar algo com qualidade ao público.


Entre as décadas de 2000 e 2010, Virgílio passou pela editoria do SBT, trabalhou no DFTV (jornal local da Globo) e desenvolveu sua linguagem como comunicador por meio de uma rotina de redações. Naturalmente os desafios dessa época foram muitos.


"Para mim, o jornalismo foi e ainda é uma espécie de janela aberta para o mundo. Eu me lembro de situações que me marcaram muito. Uma delas foi a cobertura do acidente do avião da Gol naquele choque provocado pelo Legacy pilotado por um americano. Eu tive de fazer reportagens e entradas ao vivo, direto do IML, aonde os corpos chegavam a todo momento. A minha função nessas entradas era das mais dolorosas, porque eu tinha de falar o nome da pessoa a cada vez que um corpo era reconhecido. O voo vinha de Manaus para Brasília, então tinha muita gente que morava aqui. Uma colega de faculdade, inclusive, foi uma das vítimas do acidente. Eu contei essa experiência para dizer que esse tipo de cobertura te obriga a ser rápido, claro e, ao mesmo tempo, responsável com a informação. Foi duro, mas foi uma escola.", relembra.

Virgílio Silva como repórter do DFTV - Arte sobre imagens das redes sociais
Virgílio Silva como repórter do DFTV - Arte sobre imagens das redes sociais

Já na redação, o desafio como editor era outro. Virgílio lidava diariamente com a pressão do tempo e com a enxurrada de informações. Quem trabalha com jornalismo sabe que o resumo é algo habitual. Não estranhamente, se aprende a contar algo muito complexo em duas linhas de texto (e sem erro). Essa sagacidade ajuda a moldar o poder de síntese e de comunicação.


"Isso me deu disciplina, mas também me ensinou a escutar. E escutar abrange não só o ouvir em si. A gente aprende a escutar a verdade num contexto muito mais amplo. Não só das fontes, importantíssima, diga-se, mas também a escutar os silêncios, os detalhes, os gestos, principalmente no jornalismo de televisão, que foi onde eu sempre atuei. E, sem que eu percebesse ali naqueles momentos pressão, era uma preparação riquíssima para minha futura experiência na ficção. Foi quando percebi que tudo isso estava dentro de mim.", explica.


A rotina da reportagem faz com que o profissional da área, ainda que tenha muitas boas referências de livros ou cursos, perceba que é na rua, por meio das conversas ou até mesmo do do inesperado que as boas histórias surgem. E se a ideia é contar histórias ou encontrar combustíveis para elas, a transição do jornalismo para a dramaturgia seria algo inevitável. Sobre isso, Virgílio é categórico:


"Acho que isso, sem qualquer dúvida, me ajuda a criar personagens mais vivos, diálogos que soam mais naturais... E aí tem uma diferença legal que vale a pena destacar que é: no jornalismo eu corria atrás dos fatos, da realidade, que é sempre cheia de emoções. Agora, de certa forma, eu corro atrás dessas mesmas emoções, mas sem o compromisso de sofrer ou ficar alegre (eu sofria mais do que sorria), porque tudo passa a ser imaginação, embora meus dois eus, jornalista e roteirista de ficção, continuem investigando o humano."


Já como autor, fez sua estreia como pesquisador e roteirista na Globo Rio em 2014 na novela "Império" (aquela do Comendador). Escrita por Aguinaldo Silva, a obra conquistou o Emmy Internacional. Atuou também como corroteirista de Aguinaldo em "O Sétimo Guardião" (2018). Desde então, não parou. Foi colaborador e corroteirista do filme "Crô em Família" (2018), oriundo da novela "Fina Estampa" (2010), onde a personagem de Marcelo Serrado teve notório destaque.

Virgílio Silva - Arte sobre imagens das redes sociais/ internet
Virgílio Silva - Arte sobre imagens das redes sociais/ internet

Mas o jornalista e autor também foi menino... E um menino que desde muito cedo se rendeu aos encantamentos da contação de histórias.


"Eu 'assistia' muito a programas de rádio. No interior de Minas Gerais, de onde eu vim, e acredito que nos rincões todos desse Brasil gigante, as pessoas usam o verbo 'assistir' para dizer que ouviram um programa no rádio. Eu cresci num lugar com cerca de cinco mil habitantes chamado Campo Azul em que não havia sinal de televisão. E eu me orgulho disso porque essa cidade está encravada no sertão de Guimarães Rosa, com toda aquela riqueza descrita por ele no livro clássico. Televisão, mesmo, eu via quando ia a Montes Claros, onde moravam meus avós. Mas, curiosamente, a televisão não exercia grande fascínio sobre mim. Talvez pelo fato de a primeira infância ter sido longe dela. O rádio, sim, era minha diversão. Mas não a principal, embora eu amasse ouvir as transmissões esportivas para saber notícias do meu time, o Atlético Mineiro. E também ouvia muitos programas da Rádio Globo, do Rio de Janeiro. Foi ali que conheci os grandes clássicos da música brasileira. Mas eu tinha outro vício! Esse, sim, o principal: os livros. Posso dizer que foi nos livros que o eu menino 'assistiu' a suas maiores aventuras. Desde a Coleção Vagalume, passando por Mark Twain (um dos meus livros preferidos até hoje é 'As Aventuras de Rockleberry Finn', que encontrei no lixo de uma vizinha, por acaso minha professora de Português) até as leituras de mais difícil digestão, como Machado de Assis, José de Alencar e outros grandes escritores brasileiros. Era nesses momentos que o verbo 'assistir' baixava latente em mim. Não sei como explicar isso, mas, a cada leitura, não eram as letras, as palavras e as ilustrações que eu via na minha frente. Aquilo tudo se transformava em imagem e, até o fim da leitura, eram sagas completas com imagens quase que a minha imaginação criava. Hoje eu digo que quem lê com a imaginação no modo ‘ativar’ assiste a histórias incríveis..."


É certo que o meninos imaginam e a imaginação faz parte da construção de personalidade. Virgílio se aventurava contando fábulas ainda criança e isso vai revelando que não havia como ser outra coisa se não um escritor de ficcção. Se a literatura já se fazia presente junto com o que "assistia" no rádio", logo outra paixão despontaria: o cinema! Mas não o cinema na tela e sim no videocassete. Foi por meio de um aparelho com algumas fitas emprestadas da irmã que ele se encantou com a novidade do audiovisual. Ali, na fita magnética, conheceu Sean Connery e Brigitte Bardot em "Shalako", faroeste de 1968. As novelas vieram um pouco depois...


"Depois que peguei o gosto pelas novelas, assistia a todas. Mas, com o passar do tempo, eu comecei a me interessar mais por aquelas que tinham o melodrama como foco e representavam um pouco daquele universo rural onde eu cresci. Por isso, 'Roque Santeiro' e 'Vale Tudo' se tornaram as que me apontaram para esse caminho (embora uma irmã diga que eu era viciado em Partido Alto). Olha que coisa curiosa: sem perceber, eu já tinha uma conexão com Aguinaldo Silva, pois jamais imaginei que um dia escreveria novelas, embora tenha embalado o sonho de ser escritor desde criança, e, justamente, ao lado dele, que acabou virando ídolo. E as novelas do Aguinaldo realmente têm uma força, um magnetismo que atraem nossos de um jeito impressionante. Isso, no entanto, não quer dizer que não tenha outras novelas favoritas. Eu adoro as novelas do Carlos Lombardi. 'Quatro por Quatro', para mim, é o grande clássico dele. Assisto mil vezes e não me canso, assim como 'Chocolate com Pimenta', do Walcyr Carrasco; 'Por Amor' e 'História de Amor', do Manoel Carlos; 'Mulheres de Areia', de Ivani Ribeiro; e uma mais recente, pela qual tenho um grande apreço: 'Cordel Encantado', de Thelma Guedes e Duca Rachid. São obras de arte que representam a nossa cultura em tudo que ela tem de belo, mas sem denunciar nossas mazelas, que é um papel importantíssimo que a novela tem.", detalha.

Zé Dassilva, Aguinaldo Silva e Virgílio Silva - Globo | Estebam Avellar
Zé Dassilva, Aguinaldo Silva e Virgílio Silva - Globo | Estebam Avellar

De apreciador das obras da televisão para amigo, colega e parceiro de Aguinaldo Silva. Não é todo mundo que tem o privilégio de trabalhar com quem ajudou a contar as histórias das quais gostava anos atrás.


"Meu laço com Aguinaldo começou quando eu participei de uma oficina com ele, em 2010, antes da exibição de 'Fina Estampa'. Eu trabalhava como jornalista na Globo de Brasília, tirei férias e fui para o Rio, aprendendo com ele a escrever novela. Foi uma experiência incrível. Eu não acreditava que estava diante do meu ídolo vivendo um sonho que considerava inalcançável, impossível. Vivi esse sonho. Mas, como (eu achava) que todo sonho tem um fim, a oficina acabou, eu voltei para casa e dei de cara com a realidade da vida pré Aguinaldo. Acordar de madrugada, dois empregos, boletos para pagar... vida normal, né? E aquela DPA (Depressão Pós Aguinaldo) quase profunda. E segui..."


Seguiu por três meses depois, até que recebeu um e-mail de Aguinaldo o convidando para trabalhar com ele. Mas ainda não seria como roteirista e sim num vídeo formativo onde o autor ensinaria as pessoas a escreverem novelas. Missão dada, missão cumprida! "Lá fui eu para o Rio de novo. Levei todo o aparato. Luz, tripé, microfones e um roteiro debaixo do braço. Lançamos o DVD, que foi um sucesso, e, a partir daí, nunca mais nos separamos. Aí vieram 'Império', 'Crô, o filme', e 'O Sétimo Guardião', todos como pesquisador e colaborador. Havia também um monte de projetos que estão guardados à espera de sair da gaveta"


Porém, um desses projetos guardados saiu da gaveta e está prestes a estrear: Trata-se de "Três Graças", a nova novela das 21h, deixando Virgílio exultante: "Aguinaldo me convidou para criar e escrever com ele. Eu aceitei de pronto. Quem recusaria?"


O Brasil está carente de uma obra de Aguinaldo Silva na TV. Tivemos as reprises de "Fina Estampa" na pandemia e de "Tieta" no Vale a pena ver de novo recentemente, ambas com grande êxito. O Portal Conteúdo chegou a gravar um mini doc sobre Mangue Seco, 35 anos depois de "Tieta", obtendo, somadas as redes sociais, mais de 300 mil acessos. Você pode conferir clicando aqui.


Expedição Mangue Seco - 2025

Ver uma obra de Aguinaldo voltar à TV com uma trama popular, enredo convidativo e, ironicamente, depois de "Vale Tudo", que também tem autoria original de Aguinaldo ao lado de Leonor e Gilberto representa muito para o audiovisual contemporâneo e para Virgílio, claro:



"Representa um desafio de proporções hercúleas e representa a realização de um sonho. Lembra que eu disse que considerava esse um sonho inalcançável? Era mentira! Sonhos são possíveis, sim, e eu seu sou prova viva de que podemos realizá-los. Substituir um clássico não é tarefa fácil. A gente sabe que 'Vale Tudo' é sucesso absoluto de audiência e que isso por si só já aumenta a responsabilidade. É uma novela das nove, o maior produto da TV Globo, se eu não estiver errado, o que demanda da gente uma preocupação em fazer o melhor ainda melhor. O que me conforta é estar ao lado de Aguinaldo e sua vasta experiência. Ao lado dele eu sinto a segurança de quem não está mergulhando no escuro. Afinal, o currículo dele fala por si!", finaliza.


Gerluce (Sophie Charlote), Ligia (Dira Paes) e Joélly (Alana Cabral) — Foto: Divulgação/Globo
Gerluce (Sophie Charlote), Ligia (Dira Paes) e Joélly (Alana Cabral) — Foto: Divulgação/Globo

"Três Graças é uma novela escrita por Aguinaldo Silva, Virgílio Silva e Zé Dassilva, com direção de Luiz Henrique Rioso. A trama tem três motes iniciais:

  • Uma mulher, filha e mãe, inconformada com a injustiça diante das maldades que assolam sua comunidade e sua família, numa São Paulo que abriga milhões de brasileiras como ela.

  • Corruptos que prejudicam uma multidão de doentes em benefício próprio.

  • A luta do bem contra o mal e a dúvida sobre até onde ir quando se precisa batalhar pela sobrevivência.


A estreia será no dia 20 de outubro, às 21h20.

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