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Josuel Junior - Editoria

ARTHUR SCOVINO: UM MUSEU DE GRANDES NOVIDADES

O Google diz que ele é artista visual, os seguidores do Instagram dizem que ele é um caboclo das postagens criativas. Nós, do Portal Conteúdo, dizemos que ele é um museu de grandes novidades! Precisamos falar de Arthur Scovino!

Por definição acadêmica, ele cursou História, Comunicação e Música, até se formar em Licenciatura em Desenho e Plásticas pela Escola de Belas Artes da UFBA. Por definição popular, ele é um artista de múltiplas linguagens que desenvolve pesquisa em torno da cultura e das relações afetivas e sociais, através de instalações e performances. Por definição sem definição, ele é um provocador do público através de imagens, tempos de respiração e postagens incríveis nas redes sociais. Um Ímã que atrai nossos dedos às teclas e olhos às telas, nos fazendo pensar: Quem é esse homem, meus deuses?


Arthur Scovino é natural de São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro, mas também é de todas as partes, seja carregando capas de LP's de Gal pelas ruas do Brasil e de Moscou ou deitado em seu tapete cuidando da gata Simone. O artista, que investiga símbolos do imaginário místico, religioso e histórico brasileiro, já recebeu dois prêmios dos Salões de Artes Visuais da Bahia, participou da 3ª Bienal da Bahia e da 31ª Bienal de São Paulo, foi indicado três anos seguidos ao Prêmio PIPA e teve participação em diversas exposições coletivas, nacionais e internacionais. Atualmente, mora numa casa-ateliê em São Paulo, onde realizava, antes da pandemia, diversas atividades como residências artísticas, aulas e exposições.

UM MUSEU DE GRANDES NOVIDADES


Quem segue o artista no Instagram tem muito o que observar. Há uma certa mistura de estações nas postagens dele que faz a gente esperar pela próxima provocação. Não queremos dizer com isso que os posts de internet são efêmeros e perdem logo a validade. Muito pelo contrário: Passeando pelo feed de Arthur, muitas vezes, queremos curtir de novo o que foi postado semanas, meses atrás. Há uma leveza e uma audácia sempre presentes no conteúdo que posta. Seria difícil tentar sintetizar o turbilhão de sentimentos que ele deixa escapar dos poros para virar pixels. As fotografias, os desenhos e os trechos de suas intervenções urbanas e rituais particulares são, por si sós, uma nova obra de arte.

"Gosto de flertar com o risco e a liberdade do experimental que nos foi dado de presente por artistas dos anos 60/70 como grande inspiração. Levo isso com seriedade, sem medo de confundir o mercado ou o clube das artes. Sou um cara que ritualiza a vida e já tive outras profissões antes de ser artista. Isso me dá mais prazer ainda em poder desenvolver meu desenho ou fotografia, partindo da performance ou de algo intuitivo que acontece e vou desenvolvendo no trabalho. A comunicação na rede social é prova dessa liberdade. Comecei usando ela e ainda acho que há muito o que descobrir nesses sistemas que agora convivem com o oficial e as instituições."

Uma das perguntas mais chatas que os artistas têm escutado nos últimos meses é sobre a tal da reinvenção. As instituições de notícia deram uma dose muito alta de discurso de serenidade e resiliência, como se os artistas fossem o modelo do contentamento social num momento em que a arte nacional foi cruelmente sacrificada e negligenciada pelo governo. Há todo instante, perguntam para os fazedores de arte como eles têm lidado com a criatividade e a produção em tempos de pandemia. Essa pergunta é, talvez, um dos mais amargos comprimidos antitérmicos e analgésicos do momento: Não curam o problema dos artistas e ainda deixam um gosto ruim na boca.


Arthur defende a importância de desmistificar a barreira da arte contemporânea revendo as posições que tem como artista que comunica para seu público, seja no instagram, num blog, num museu ou numa galeria. O processo criativo que nasce de sua intimidade não se explica metodologicamente, mas ele tem consciência de que suas criações seguem para um contexto mais abrangente.


"Talvez isso esteja mais ligado ao tipo de comunicação que escolhi, que é mais popular, e, mesmo que mostre minha poesia nessa linguagem contemporânea (às vezes, mais figurativa, outras, mais abstratas), gosto de pensar que é uma linguagem possível de dialogar com muita gente. Escolho os símbolos pois tenho um longo tempo de pesquisa com eles. Falo da vestimenta, das cores, das imagens que uso no meu trabalho, mas penso sempre em deixar que minha intuição complete essas imagens para que venha algo que me deixe instigado também. Aí o pequeno mistério existente na linguagem passa a ser meu também e não só do público que se conecta ao trabalho."

Arthur usa diferentes perfis nas redes. Há o pessoal, com um misto de publicações particulares e trabalhos aleatórios, e há um específico para o desenho de homens nus. Um perfil íntimo e outro perfil de múltiplas intimidades. O engajamento de suas publicações é forte e isso a gente percebe pela movimentação no feed, mas... quem busca ele nas redes? Que público é esse que visita a galeria de arte em um perfil de instagram?

"Comecei a separar esses trabalhos, especificamente os desenhos e as fotos onde tem nudez, porque estava tendo que negociar com a censura das redes e a denúncia das pessoas que seguem meu Instagram. Meu trabalho conhecido nas exposições e mostras de performances, não tem tanto desse erotismo ou nudez mais explícita dos desenhos, então decidi não ignorar essa censura ou denúncia. Gosto de me divertir com eles e interagir com pessoas que estão interessados neles sem esse cartaz e currículo do artista das galerias e instituições. Nesses outros perfis eu falo com gente que nem sabe que sou artista, acha que eu desenho por fetiche ou robe, e percebi que isso me interessa muito. De repente, na minha incansável busca pela liberdade do experimentalismo, algo banal do meu cotidiano vai pro museu em forma de performance, vídeo ou fotografia, e o meu desenho e outras técnicas das artes, vai pra um jogo de fetiche de troca nas redes. Estou pensando sobre os valores que aplico nesses fazeres (trabalhos)... Sobre os conceitos por trás da maneira em que me comunico com eles."


Nos últimos anos, Arthur tem se dedicado à composição de obras artísticas com diferentes linhas de pesquisa. Dentre essas criações performáticas, dessas instalações e querências pulsantes, destacamos as seguintes:


NHANDERUDSON - Uma mostra que abrange uma série autorretratos e, posteriormente, fotos de objetos, paisagens, pessoas e animais que possam revelar uma essência "selvagem" do artista Imagens criadas exclusivamente para postagens na internet, explorando o conceito erótico-exótico e partindo de uma reflexão psicológica envolvendo antropologia e sociologia. Esse trabalho se iniciou como performance para fotografia e se desdobou no compartilhamento de imagens entre internautas, visando a provocação e a troca de comentários pelas redes.

LEVANDO OS ELEPÊS DE GAL PARA PASSEAR - Quando menino, os olhos dele brilhavam ao ver as capas das novelas "Brega e Chique Internacional" e "Tieta Volume 1". Quem é mais velho lembra que foi o primeiro caso de nudez artística explícita vendida nas vitrines de discotecas de todo o país. Isadora Ribeiro e Vinicius Manne, ainda que indiretamente, povoaram a imaginação de muitas pessoas nessas capas. Unindo sua paixão pelos discos de vinil e a vontade de colocar algumas dessas capas para respirar novos ares, Arthur passou a andar pelas ruas levando consigo alguns LP's de Gal Costa para passear. Essa performance foi gerando admiradores e novos adeptos. Pessoas começaram a compartilhar fotos com capas de discos da cantora em diferentes lugares do Brasil e o mundo - um verdadeiro caso de "retweet" analógico em 73 rotações por minuto.

CABOCLOS - Essa série tem muitos desdobramentos. Seria bem difícil elencá-las de maneira cronológica. Compõem a estrutura de performances, ilustrações e fotografias "Caboclo dos Aflitos", "Caboclo Borboleta", "Conexão do Caboclo", "Caboclo Pena Rosa", "O Caboclo do Dois de Julho", "Um Caboclo" e a própria "Casa de Caboclo". Em resumo tímido, são trabalhos individuais e em conjunto com registro em diferentes espaços e ocasiões, sempre em interação com elementos poéticos, seja de maneira íntima, em galerias ou no centro da cidade.

NUDES A FIO

Homens de diferentes partes do mundo revelam um pouco de suas intimidades para uma ilustração exclusiva de Arthur Scovino. Um desafio que requer desprendimento, coragem e leveza. As ilustrações são publicadas em um perfil específico e fazem parte das investigações do artista e são feitas em sessões ao vivo, sessões por encomenda e por reprodução de fotos originais dos interessados. A rede de adeptos e seguidores do perfil @nudesafiox acaba por gerar um nicho específico de quem gosta de ver desenho e ser ser desenhado.

COMO TER UMA OBRA DE ARTHUR SCOVINO EM CASA?


Recentemente, o artista disponibilizou algumas de suas peças para o público da internet. Há produções fresquinhas, como "Fakenews da Independência - por trás de 20 centavos" e outras mais antigas, como a série de fotos "Santo Antonio Caboclo". É comum ver pessoas de todo o país compartilhando quadros, telas e criações de Arthur Scovino em casa. Admiradores, colecionares de arte e entusiastas passam a observar com um olhar mais sensível a criação da arte contemporânea brasileira. As peças não têm grandes tiragens e contam, todas, com certificado de autenticidade.


"Neste ano, como muita gente, me vi num momento bem complicado, pois onde investi em 2019 para abrir minha casa/ateliê. Não costumava vender muito pela internet, pelo menos não oferecia como tenho feito agora. Já fui representado por uma grande galeria em SP, mas percebi que meu trabalho dialoga de maneira diferente e mais direta com as pessoas, tanto que vendi agora trabalhos que fiz em 2015, 2016 pelo mesmo valor que estava na galeria antes. Começo a entender que isso também contribui para minha liberdade de criação. Trabalho exclusivamente com minha arte e não tenho outra renda que não essa. Tenho aprendido a dialogar com as pessoas também criando alternativas e diferenças no valor das obras. Vendo meu trabalho para colecionadores e instituições, mas também pra pessoas que não estão ligadas nesse contexto das artes e o único interesse é ter um trabalho meu ou mesmo contribuir de alguma maneira com a manutenção do ateliê. Isso é diferente de muita coisa que havia feito antes. Sou muito grato à essas pessoas e isso me ajuda a refletir no que é ser artista em 2020, com todas as possibilidades de existir e comunicar."

É simples e fácil ter uma peça exclusiva em sua casa. Basta entrar em contato com Arthur pelo Direct do Instagram e combinar como adquirir uma obra de maneira prática e segura. Como são poucas tiragens, é bom se adiantar. Além de fazer circular a arte contemporânea, quem adquire uma peça artística exclusiva leva um pouco de um respiro poético-afetivo para dentro dos lares.


A ideia de falar sobre esse artista tão intenso e tão essencial para esse período em que vivemos veio dos longos suspiros dobrados que eu, como colunista, tive ao acessar suas redes sociais. São anos observando de longe toda a efervescência criativa e poética desse homem que falou, fala e ainda tem muito o que falar através de imagens e do que não está enquadrado nelas. Agora, sem ser como editor de conteúdo, mas sim como artista e como homem também... é muito bom saber que Arthur Scovino existe e que pulsa nele algo que também pulsa aqui. Encontrar um artista que expresse tanta coisa que a gente também sente é como encontrar um oásis singelo num deserto de tantas opções.


Por fim, o Portal Conteúdo perguntou a Arthur o que ainda o move nesses tempos tão estranhos do Brasil. Certeiro, ele respondeu:

"A certeza de que tem muita gente boa e maravilhosa nesse mundo. Não devemos nunca esquecer disso." 


Siga o artista no Instagram: @arthurscovino


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