O ator Vitor Placca tem feito uma série de vídeos no instagram com leitura da obra de Dostoiévski. O projeto segue até a próxima semana.
Ele é natural de Sorocaba e vive em São Paulo há alguns anos. Ator formado pela Universidade de São Paulo, concentra a maior parte de seus trabalhos no teatro e na fotografia. O processo de isolamento social e quarentena levou o artista de volta ao universo da literatura. Esse retorno veio com a lida de romances. Leu um ali, outro aqui, até que chegou em Dostoiévski, primeiro com as "Memórias do Subsolo".
"A gente sempre teme um nome grande de autor e vai adiando a sua leitura. É assim com Shakespeare, Brecht, Guimarães Rosa, Machado de Assis. Nós esquecemos que eles são o que são porque alcançaram no seu tempo e no passar do tempo, não só o respeito acadêmico, mas popularidade. Mistificamos essas figuras sem conhecê-las propriamente. Aliás, só mistifica-se aquilo que não se conhece", comenta o ator.
Vitor diz que já leu muito, mas que nos últimos anos as leituras passaram a ser mais técnicas, específicas, com foco em ensaios, estudos e etc. Esse movimento de leituras mais dirigidas é, inclusive, uma das características da academia. O artista, porém, sentiu falta de algo que pudesse mover sua imaginação, que desse de novo aquela vontade de experimentar, de voltar a sentir o sabor de uma boa leitura, de uma história bem contada com personagens inteiros, tridimensionais.
Tudo começou no isolamento. No caso de Vitor Placca, um isolamento de quatro meses. No caso da personagem, de quarentena anos.
Foi em "Memórias do Subsolo" que ele encontrou uma leitura tão prazerosa, mesmo no horror da miséria do humano. O livro é um eloquente solilóquio de um homem que vive no avesso da sociedade alimentando-se de ressentimento e inércia. Dividido em duas partes, a obra apresenta um grande pensamento labiríntico sobre as concepções de mundo desse humano e, posteriormente, as memórias de vida que são continuidade à narrativa
"Fui tocado pelas memórias e por esse personagem, que é tão humano, tão patético e risível, provocador de asco e comiseração. Em quantos subsolos nós já nos entocamos também, arredios e inertes? É um chamamento para olhar a nossa condição humana, social.".
Partindo dessa investigação, surgiu a provocação: Por que não compartilhar parte dessas sensações que tive na primeira leitura com mais pessoas? Vitor abriu uma leitura compartilhada em sua rede social, dividindo dois capítulos por dia.
"Sem grande pretensão, gostaria que a leitura fluísse e, caso despertasse impulso meu de composição de personagem (início de algo) que fosse feito sem julgamento, como brincadeira, sabor de ler as palavras. Com isso, pessoas têm chegado e as lives tem um certo público garantido, pouco mas fiel, o que me deixa muito satisfeito com esse processo.".
O retorno, segundo ele, é muito acolhedor e incentivador, o que o inspira a seguir com as LIVEraturas, nome que deu ao projeto. Memórias do Subsolo também começa a despertar a vontade levar algo para o palco, com desejo de não só dar voz, mas também corpo às palavras e pensamentos postos no livro. Provavelmente em 2021, ano em que comemora-se 200 anos de nascimento de Dostoiévski.
ONDE ASSISTIR?
Segunda a sexta, às 22h no Instagram @vplacca
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