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Josuel Junior - Editoria

O QUE PENSA A NOVA GERAÇÃO DE ARTISTAS DO DF?

Monografia, TCC, PIBIC... O que os estudantes de Artes do DF têm pesquisado na academia? Hoje o Portal Conteúdo fala com Henrique Curado, que está no último semestre do Mestrado em Estudos Teatrais pela Universidade Autônoma de Barcelona. .

Henrique Curado

O Portal Conteúdo abriu espaço para que pesquisadores das artes do DF possam falar de suas pesquisas e motivações acadêmicas. Dessa forma, mesmo que não acompanhemos as defesas de monografias, dissertações e artigos pessoalmente, damos uma força na divulgação desses trabalhos e dessas investigações, mostrando o que pensa a nova geração de fazedoras e fazedores de arte do DF.


Hoje, temos uma entrevista com Henrique Curado, que está no último semestre do Mestrado em Estudos Teatrais pela Universidade Autônoma de Barcelona. O tema de monografia escolhido por ele é: "Teatro Musical Brasileiro: uma história de rituais antropofágicos".


Do que trata a pesquisa?

"O teatro musical tem uma importância histórica na cultura brasileira. É responsável por iniciar a profissionalização do nosso teatro, como também por consagrar a Música Popular Brasileira (MPB), para mencionar alguns exemplos. No entanto, os principais subgêneros do Teatro Musical Brasileiro – a revista e o Teatro Político Musical – tem suas origens no estrangeiro. Elementos da cultura europeia eram importados e assimilados, para logo consolidar uma nova forma autenticamente brasileira. Com vista a identificar e explicar tal fenômeno, o trabalho se utiliza do conceito de antropofagia apresentado no “Manifesto Antropófago” de 1928 e escrito por Oswald de Andrade. A antropofagia cultural teoriza uma produção artística no Brasil marcada por influências estrangeiras; porém, em vez de basear-se em um modelo de cópia ou imitação, a cultura vinda de fora é deglutida e suas qualidades assimiladas, assim como é realizado no ritual antropofágico dos Tupinambás em que se comia a carne dos inimigos com o mesmo objetivo, em um ato de vingança."


Por que esse tema, Henrique?

"Minha infância, lá em Minas Gerais, foi marcada por teatro musical. Desde pequeno fiz peças na escola, a maioria esmagadora de musicais da Broadway em razão do boom desses espetáculos no Brasil no início dos anos 2000. Mas daí na graduação eu descobri o riquíssimo teatro musical brasileiro – quero dizer, descobri não né? Me foi apresentado pelo prof. Fernando Marques da UnB, que tem um livro primoroso sobre o Teatro Político dos anos 60 e 70. Minha cabeça mudou completamente, foi então que passei a ler/escutar/assistir o máximo que podia desse universo encantador. Quando me surgiu a oportunidade de fazer um Mestrado em Teatro lá em Barcelona, no centro da Europa, eu sabia que era a chance de introduzir uma das nossas maiores riquezas em um meio acadêmico que prioriza produções culturais exclusivamente europeias ou estadunidenses. O nosso Teatro Musical é um fenômeno nunca antes experimentado em qualquer lugar do mundo, foi berço dos programas de humor que a gente vê até hoje na TV, foi a porta de apresentação para a MPB... E o fato de ser quase nula a produção estrangeira sobre o tema me pareceu a justificativa perfeita para fazer esse estudo em uma universidade espanhola."


Quais as dificuldades você enfrentou durante a pesquisa?

"Acho que o maior desafio se deu com as bibliotecas fechadas. Não é como se o tema fosse amplamente estudado, com grande oferta de material pela internet – tive que me virar com os escassos artigos acadêmicos disponíveis. Também contei com a aquisição da maior parte da bibliografia do meu trabalho por livrarias na internet, o que reconheço ser um privilégio em meio a essa crise gravíssima que nosso país se encontra. Como sempre, o estudante e pesquisador no Brasil ficam propositalmente desamparados pelo governo sem as bolsas, sem acesso às bibliotecas – à nível de comparação, conquistei uma bolsa do governo espanhol em meio à pandemia, enquanto minha universidade estava disponibilizando o empréstimo de livros durante todo o lockdown, desde que respeitados as quarentenas dos livros antes e depois do empréstimo. Por fim, devo comentar uma dificuldade minha e da orientadora em oferecer livros em espanhol sobre o tema, até mesmo um que tratasse do teatro brasileiro da forma mais abrangente possível. Não deixo de reconhecer a importância desse trabalho em apresentar uma breve historia do nosso teatro musical em espanhol: além de algo inédito, deve-se considerar que é uma língua falada por todos os outros países do nosso continente."


O formato de Ensino Remoto chegou a afetar sua investigação?

"Eu me lembro que, até pouco tempo atrás, o ensino à distância - uma ferramenta na época mais utilizada por faculdades privadas – era duramente criticado, visto com certo preconceito. Hoje já é uma realidade. A tecnologia, se bem utilizada, pode ser uma fortíssima aliada ao ensino. Isso já era bem claro, com professores usando slides, o Google Drive, grupos de e-mails... Acredito que o ensino remoto era apenas o próximo passo – definitivamente levaria mais tempo, mas a pandemia deu uma acelerada. No entanto, como toda nova inovação, é necessário um treinamento para docentes e discentes sobre a melhor forma de aproveitá-lo; o que infelizmente eu acho que não está acontecendo."


Depois da apresentação da Monografia, quais são suas expectativas?

"O momento atual está cheio de incertezas. E com o desmonte das universidades, (des)investimento da cultura, torna tudo mais turvo. Mas é inevitável minha vontade de transformar esse trabalho em um livro! Seja na língua original, em espanhol, ou em uma tradução para publicação aqui no Brasil... Seria um sonho realizado!"


Se você é estudante de Artes Cênicas, Artes Visuais, Dança, e Teatro da UnB, da Dulcina, do IESB ou dos IFB's, envie sua pesquisa para falecomportalconteudo@gmail.com. Faça como Henrique e explique direitinho as etapas dessa investigação.


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