Após a exoneração de Bartolomeu Rodrigues, o ex-Deputado Distrital assume a pasta. Saiba mais sobre Cláudio Abrantes, que agora tem grande responsabilidade junto à classe artística do DF
O DF foi surpreendido com a notícia da exoneração de Bartolomeu Rodrigues do posto de Secretário de Cultura e Economia Criativa do DF. Durante o período de sua gestão no primeiro mandato de Ibaneis Queiroz, teve a complicada missão de lidar com a falta de recursos para o setor cultural. Sua entrada foi comemorada, pois se diferenciava bastante do modus operandi de Adão Cândido, que, notadamente, parecia não gostar da classe artística. No entanto, as articulações de Bartolomeu durante sua gestão desgastaram sua imagem para com agentes culturais. Respostas ácidas em entrevistas, vídeos postados nas redes... tudo isso denotou que, embora houvesse diálogo, nos últimos meses de trabalho o distanciamento com o movimento cultural tenha sido notório.
Cláudio Abrantes assume o cargo num momento importantíssimo para o DF e o Brasil: o lançamento das Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, que já estavam também desgastadas antes mesmo do início, visto que pareciam pertencer a um caso perdido onde havia a boa notícia de suas execuções e retorno zero aos artistas, que observam a notícia ainda sem entender ao certo onde as leis serão executadas, na prática. Talvez, democratizar e oportunizar o entendimento sobre elas seja uma das primeiras ações de sua equipe. Os mais atentos devem lembrar que, quando era líder da câmara no DF, lutou pela não utilização da verba do FAC para obras o GDF - verdadeira polêmica na época - e esteve à frente da discussão do pagamento da Aldir Blanc.
QUEM É O NOVO SECRETÁRIO DE CULTURA?
Morador de Planaltina desde o fim dos anos 1970, Cláudio Abrantes logo estreitou laços com a cidade. Quando aluno do CEM 01, o Centrão, ingressou no movimento estudantil. Dali para a militância política foi um passo. Antes de entrar para a política, foi secretário escolar e policial civil. A vivência artística dialogava com as outras tarefas.
Vale lembrar que a vida de Claudio Abrantes é fortemente marcada pela sua atuação na Via Sacra do Morro da Capelinha, em Planaltina, onde ele interpretou o papel de Jesus Cristo entre os anos de 1991 e 2001. Até hoje, duas décadas depois de sua última participação, ele ainda é lembrado por esse momento.
Como deputado, destinou, todos os anos, de R$ 8 milhões a R$ 10 mi de seu orçamento individual para a RA de Planaltina. Os recursos foram revertidos em ações como reforma e construção de quadras cobertas, o asfaltamento de vias, a construção de postos de saúde e melhorias na estrutura de escolas, por meio do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (PDAF).
Além disso, como presidente da Comissão de Assuntos Fundiários (CAF), Abrantes analisou e aprimorou o projeto de lei nº 2.053/2021, do Executivo, que resultou na Lei nº 6.946/2021. O texto autoriza o governo a isentar e reemitir débitos do preço público cobrado dos autorizatários, permissionários ou concessionários pela ocupação ou uso de área pública do DF.
A terceira bandeira defendida e destacada pelo parlamentar é a da recomposição dos quadros do serviço público. Para o distrital, essa é uma maneira de melhorar os serviços prestados. Ele é autor da Lei nº 6.488/2020, que acaba com a eliminação de alunos que tenham sido aprovados dentro do quantitativo de vagas disponíveis dos concursos públicos.
De acordo com a norma, todos os candidatos que atingirem a nota de aprovação do certame podem ser nomeados, durante a validade do concurso. Na prática, a nova legislação acaba com a eliminação automática daqueles aprovados acima do número de vagas estabelecido no edital.
Claudio teve quatro mandatos, tendo sido eleito duas vezes (2010 e 2018) e ficado na suplência em dois pleitos (2006 e 2014). Atualmente está fora da Câmara Legislativa devido ao quociente eleitoral, pelo PSD obteve 20.554 votos, sendo o décimo sexto candidato mais votado no Distrito Federal.
Suas áreas de atuação incluem diversas frentes, como as forças de segurança do Distrito Federal (Polícia Civil, Polícia Militar e Bombeiros), concursos públicos, regularização fundiária, igualdade, cultura, saúde, educação, entre outras. Sua atuação por Planaltina. Em 2018, foi convidado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) para assumir a liderança do governo na Câmara, e ficou no cargo até o final de 2020, quando o deixou para ser presidente da Comissão de Assuntos Fundiários (CAF).
Agora, assume uma responsabilidade fortíssima, pois os artistas do DF ainda não estão totalmente confortáveis com as políticas culturais da capital. Certamente, a presença de um artista, de um apreciador das manifestações tradicionais e cultura popular é sinônimo de confiança, porém, é necessário que as linhas de Editais do setor tenham mais vagas (grande e constante reclamação da categoria). Do contrário, a verba da pasta jamais chegará a todos de direito. A livre concorrência movimenta qualquer mercado, porém, não se pode chamar de livre concorrência um pleito onde apenas 4 ou 5 vagas são disponibilizadas aos entes e agentes culturais nas categorias de projetos como o FAC, por exemplo.
Uma questão que gerou muitas críticas à gestão de Bartolomeu Rodrigues foi a do resultado do edital de Chamamento Público nº 37/2021 para celebração do Termo de Colaboração com Organizações da Sociedade Civil (as OSC's) que assumiriam os equipamentos Complexo Cultural Samambaia, Complexo Cultural de Planaltina e Espaço Cultural Renato Russo. Na ocasião, apenas o Instituto Janelas da Arte, Cidadania e Sustentabilidade ganhou o direito de gestão do Espaço Cultural Renato Russo. O Imaginário Cultural, que assumiria a gestão do Complexo Cultural Samambaia e o Conexões Criativas, que assumiria o Complexo Cultural de Planaltina, não receberam a verba destinada para o trabalho e, com isso, não puderam exercer o planejamento bianual.
O cuidado com espaços culturais e o apoio às iniciativas privadas e/ou com gestão compartilhada também merece uma atenção mais afetuosa por parte de quem assume a pasta. Assim como o Teatro Nacional, que agora está sob reforma por meio de convênio com o BRB, o Teatro Dulcina, há anos, espera uma real ajuda da Secretaria de Cultura. A questão do Dulcina e da Fundação Brasileira de Teatro ganhou notoriedade no último ano pela crítica especializada e imprensa, não podendo ficar fora do radar da nova equipe. Nos últimos meses, a redescoberta do acervo histórico da instituição chamou a atenção de organizações culturais do Rio de Janeiro e de Los Angeles - que demonstraram interesse em ter itens valiosos do teatro brasileiro em seus respectivos acervos. O que despertou o interesse de organizações de fora do Brasil está, ironicamente, em Brasília, a capital do país, sem que haja uma valorização direta do próprio GDF.
O teatro está ansioso e esperançoso da nomeação e do trabalho de Cláudio Abrantes, o circo está esperançoso, a música independente, os espaços culturais de menor porte, os equipamentos de patrimônio material e imaterial do DF... muitos são os setores que, mesmo com essa esperança, ainda não viram um real e recorrente incentivo chegar no bolso de quem ajuda a mover a máquina cultural de Brasília e das RA's.
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