A última matéria que celebra as 15 primeiras edições da Mostra Dulcina relembra alguns trabalhos de professores e estudantes nos palcos que ajudaram a formar muitos artistas do Brasil. A série de reportagens auxilia na preservação da memória teatral brasiliense.
A Mostra Dulcina manteve edições semestrais consecutivas até o ano de 2012. A partir dessa data, não foi possível documentar todas as atrações que fizeram parte do projeto. As trocas de gestão da Faculdade de Artes e do Teatro Dulcina impossibilitaram a manutenção de um acervo fixo da instituição.
Entre os anos de 2008 e 2011, estive diretamente envolvido com a equipe gestora e pedagógica do Dulcina. Como me formei em 2011, parte do acervo catalogado e organizado por mim se perdeu nas trocas administrativas. Como havia duplicata em meu computador pessoal, foi possível resgatar parte desse material e, a partir desse acervo, as matérias do Portal Conteúdo puderam ser publicadas. No ano de 2013, período em que estive trabalhando na TV Globo Brasília, consegui resgatar vídeos e arquivos antigos de Dulcina de Moraes para a elaboração de uma reportagem que falaria de uma das crises vividas pelo espaço. Para essa reportagem, o CEDOC da Globo disponibilizou, após difícil e longa pesquisa, arquivos que datam do início dos anos 1980. Alguns chegaram a ser retirados de latas de filmes de rolo. Ainda há mais material, porém, o trabalho para resgatar é difícil. O que usamos para ilustrar a matéria feita na época, consegui guardar... e é esse material que muitos admiradores de Dulcina de Moraes puderam conhecer através de postagens nas redes sociais. Quanto ao acervo fotográfico, videográfico e organizacional de algumas peças veiculadas na Mostra, os DVD's com dados, fotos, matérias de jornais e vídeos foram entregues diretamente à equipe de gestão da Fundação Brasileira de Teatro em 2015. Há indícios de que esse dossiê foi extraviado. O original, que não é muito, mas que está comigo (devido a um serviço de organização de acervo que prestei à instituição), seguirá aqui no HD, porém, a responsabilidade pela manutenção e difusão é inteiramente da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, que recebeu o devido material oriundo de minha prestação de serviço.
13ª MOSTRA DULCINA
A décima terceira Mostra Dulcina, realizada no primeiro semestre de 2011, marca minha saída como produtor do evento e estudante da faculdade. A edição contou com intensa campanha de vestibular veiculada na TV e internet. Foi uma mostra madura, com trabalhos bem elaborados e ousados. Uma trajetória de multiplicidade de estilos, linguagens e pensamento crítico. Quase todos os espetáculos foram resultado de uma dramaturgia em processo... Uma cena que se cria a partir de diálogos com outras obras teatrais, filmes, contos, romances, perguntas e imagens. Ao todo, oito peças fizeram parte da programação. A comissão organizadora foi assinada por Francis Wilker, Jonathan Andrade, Lúcia Andrade, Filipe Rizzo e Augusto Brandão. A produção ficou a cargo de Josuel Junior, com assistência de Celeste Silva, Mario Luz, Jeferson Alves e Núbia Karolyna.
Abrindo a programação, o espetáculo "Festim Diabólico" uma adaptação teatral do filme de Alfred Hitchcock com direção de Rodrigo Fischer. A peça foi resultado das disciplinas Montagem Teatral I e II e marcou uma mudança estrutural na condução das peças de diplomação. Após muitos anos, um novo professor/diretor assinou a peça de formatura de estudantes do bacharelado, a pedido deles mesmos. "Festim" estabelecia um diálogo entre teatro e cinema ao mostrar a história de dois jovens que assassinam um colega pelo prazer intelectual de matar e teve cinco finais diferentes, um para cada dia de apresentação; "Escrita do Corpo" foi a segunda atração e trazia performances criadas a partir de investigações físicas propostas pela professora Lívia Bennet, da disciplina Corpo e Movimento III e IV; "Nós x Nós" foi a segunda direção de Hugo Rodas no Dulcina e bebia na fonte de obras de Caio Fernando Abreu com depoimentos pessoais dos atores da turma de Projeto III do Bacharelado; "Amores Difíceis" foi baseada da obra homônima de Ítalo Calvino com situações cômicas sob direção de Fernando Guimarães.
"Partituras do Amor", foi uma montagem da turma de Projeto LPC I e II da licenciatura e apresentava uma leitura dramática sobre a dramaturgia de Maurício Witczak, com trechos das obras "Os Sapatos do Nó", "Caixa Preta" e "Nós dois no parapeito", mostrando um exercício cênico bem humorado sobre a finitude do amor; "Temos todas a mesma história" tinha direção de Ricardo Guti e mostrava a força feminina na apresentação da turma de Projeto III da licenciatura; "Ostras Infelizes", dirigida por Jonathan Andrade, colocava investigações dos atores da turma de Projeto BAC IV sobre desejos e memórias pessoais, tendo como referência textos de Tennessee Williams e Rubem Alves; Encerrando a mostra "Raízes", uma performance coreográfica com músicas da banda brasiliense Haono Beko. A produção era assinada por Doriel Francisco, Ana Carolina Melo e Alan Santos com colaboração de Juliana Veloso.
14ª MOSTRA DULCINA
A décima quarta edição da Mostra Dulcina contou com seis espetáculos e foi apresentada no segundo semestre de 2011. Algumas imagens não puderam ser catalogadas para esta matéria, bem como a ficha técnica da produção.
As atrações teatrais foram "Mar", livre adaptação da peça "Em Alto Mar", de Slawomir Mrozek, e contou com direção de Fernando Guimarães; "Amor e Morte" apresentou cenas de "Vestido de Noiva", "Beijo no Asfalto" e "Anjo Negro", de Nelson Rodrigues, sob orientação de Tullio Guimarães; Nelson Rodrigues também esteve presente em "Álbum de Família", com direção de Ricardo César.
"Mórbidus exercícius de lactobacilus vivus" era outro exercício cênico inspirado em mórbidas estéticas "burtonescas e almodovarianas" sob coordenação de Rodrigo Fischer e Valéria Rocha; "Linha Cruzada", com direção de Nei Cirqueira, foi construída a partir dos textos "145", "Café com Torradas" e "Quem dará o veredicto", de Gero Camilo.
O destaque da edição foi, sem dúvida, "Autópsia", um seleção de cenas de Plínio Marcos com direção de Jonathan Andrade. Plínio Marcos é sempre um autor que funciona muito no universo teatral brasiliense. O espetáculo, que conta com cenas de diferentes obras do autor maldito, surgiu em como exercício da disciplina de Montagem I e II na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Desde então, novos atores fizeram parte das versões da peça, que hoje é premiada e reconhecidíssima em Brasília e outros estados do país, tendo 04 atos que, volta e meia, são apresentados nos principais teatros, sempre alcançando novos públicos e inovando na carga dramática gerada com uma equipe sagaz e potente do DF. "Autópsia" é, sem dúvida, uma das mais bem sucedidas obras teatrais contemporâneas do teatro brasileiro.
15ª MOSTRA DULCINA
A última edição da Mostra a fazer parte dessa homenagem do Portal Conteúdo foi realizada no primeiro semestre de 2012 e contou com os espetáculos "Vilarejo Distante", "O Elixir do Amor", "A Rosa e o Vento", "Vereda da Salvação", "Enquanto chove no mundo", "A Porta", "Vilarejo das almas", "Brecht em Cena". Falaremos aqui sobre as peças sobre as quais se tem informações oficiais de programação a partir da filipeta impressa na época.
"Vereda da Salvação", baseada na obra de Jorge Andrade, mostrava a releitura de uma história real do Vale do Jequitinhonha, onde membros da Igreja Adventista da Promessa mataram quatro crianças acusadas de estarem possuídas pelo demônio. A peça, super densa, contou com estudantes da Faculdade Dulcina e atores convidados sob a direção de Tullio Guimarães; "A Porta", dirigida pelo então estudante Pedro Ribeiro (hoje professor do Dulcina), contava a história de três pessoas que passaram pela porta da protagonista, Maria - um amigo íntimo, o ex marido e a atual companheira - falando de amor e abandono.
"A Rosa e o Vento", com direção de Sullian Princivali, mostrava a história de uma trupe imortal de teatral que usava sua mágica nas turnês pelas cidades, mudando o destino de diferentes públicos. "Vilarejo das Almas", da turma de Montagem I e II, apresentava um cenário impressionante sob a direção de Jonathan Andrade. Já "V1l4r3j0 D15t4nt3" mostrava um suspense numa cidade incomum e foi mais uma diplomação acadêmica dirigida por Rodrigo Fischer.
A partir dessa data, nem todas as edições da Mostra Dulcina seguiram um padrão semestral. No ano de 2020, foi realizada a edição número 31, em formato on-line, devo à pandemia do novo coronavírus. O Teatro e a Faculdade Dulcina seguem firmes, mesmo com tantas dificuldades de gestão, principalmente em meio à crise cultural vivida pelo país. Infelizmente, são comuns reportagens sobre a situação da instituição, fruto da herança de uma série de inadimplências administrativas que datam desde a década de 1990.
O legado de Dulcina é rico e extremamente relevante para a arte nacional. No entanto, é necessário, para além de olhos poéticos sobre a situação real, uma nova forma de gerir e administrar esse patrimônio cultural brasiliense.
Viva Dulcina!
*Esta matéria sobre as edições de 2011 e 2012 da Mostra Dulcina contou com a colaboração dos artistas Edmar Oliveira, Junior Ribeiro e Pedro Ribeiro.
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