Monólogo criado e interpretado por Clayton Nascimento, da Cia do Sal, tem dramaturgia criada a partir do caso do goleiro Aranha, do Grêmio, ofendido pela torcida tricolor gaúcha em 2014. MACACOS é uma denúncia do racismo estrutural existente na sociedade
MACACOS, da Cia. do Sal faz curta temporada na Oficina Cultural Oswald de Andrade de 22 de setembro a 1º de outubro, com entrada gratuita. A obra foi criada por Clayton Nascimento, que também está em cena. O nome do espetáculo faz referência a uma das formas de xingamento mais usada para ofender os negros no mundo todo. O preconceito contra os povos pretos é abordado em cena a partir do relato de um homem-negro que busca respostas para o racismo que rodeia seu cotidiano e a história de sua comunidade.
Uma das preocupações centrais da obra é recontar a História do Brasil, com um novo olhar, e a partir de fatos históricos, uma vez que ela sempre foi contada pela camada social que pode estudar e estruturar leis. Segundo Clayton Nascimento, a dramaturgia está amparada por uma pesquisa séria, que envolveu o projeto "História da Disputa: Disputa da História" idealizado pela historiadora Carol Oliveira, assim como pedagogos, intelectuais, entrevistas com mães vítimas do genocídio negro no Brasil, artigos e autores pretos para estruturar os fatos muitas vezes desconhecidos pelo grande público. A riqueza da obra fez, inclusive, com que ela fosse comprada e adicionada a um lote de 10 mil exemplares de livros didáticos para ser distribuído entre os alunos do ensino público de São Paulo a partir de 2023.
MACACOS se desenrola num fluxo de pensamentos, desabafos e elucidações que surgem em cena, pautados pela História do Brasil e situações vividas por grandes artistas negros - de Elza Soares a Machado de Assis - até alcançar relatos e estatísticas do Brasil de 2022. De um modo desprevenido, o ator conduz o público a uma navegação de sonhos, reflexões, poesia e rock'n'roll. O espetáculo conta ainda com provocação cênica de Aílton Graça e preparação corporal de Ana Maria Miranda, Professora da Escola de Arte Dramática da USP. "Criei essa peça na moradia da Universidade, e como não conseguia vencer editais públicos, resolvi escrever, dirigir e interpretá-la; ao longo do tempo vieram os parceiros que tanto agregaram ao espetáculo, e seis anos depois, ver que a peça respira, viajou o Brasil, ganhou prêmios, poder publicar a dramaturgia em livro pela Cobogó, entrar nos livros didáticos da cidade de São Paulo e realizar o sonho de se apresentar nos palcos do centro cultural de São Paulo, me dão cada vez mais desejo de viver e de mostrar que o racismo, mesmo articulado e entranhado, nunca vence a profundidade da cultura popular brasileira, do mesmo modo que não existe raça, gênero, classe econômica ou credo que definam as potências de um alguém", conta Nascimento.
O projeto foi contemplado pela 13a Edição do Prêmio Zé Renato - Secretaria Municipal de Cultura.
O dever do artista
MACACOS começou a ser escrita em 2015 e fez sua estreia em 2016. Desde então, a peça já participou de festivais em Fortaleza, Curitiba, Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza, Pernambuco e Amazonas. E acumula mais de uma dezena de premiações, entre eles “Prêmio Especial do Júri por Relevância Temática e Proposição Cênica” , "Melhor Ator", "Dramaturgia ou Narrativas Urgentes" pelo Festival Niterói em Cena, Festival de Teatro do Rio de Janeiro, Festival de Teatro do Amazonas, entre outros.
Para essa estréia, o monólogo absorve questões atuais e que se tornam mais urgentes. O Brasil é um território com altos índices de homicídios causados pela Polícia Militar e Sociedade Civil à comunidade negra e indígena, o mais assustador é que a idade das vítimas ao longo dos anos vem diminuindo cada vez mais.
O texto da peça traz à luz fatos que não estão escritos nos livros didáticos, fazendo a relação entre números das estatísticas como as coletadas pelo Atlas da Violência do IPEA, e estatísticas coletadas pelo IBGE, livros Históricos, entrevistas com mães que perderam filhos para o genocídio negro no Brasil e experiências cênicas.
A dramaturgia foi criada a partir do caso do goleiro Aranha, do Grêmio, ofendido pela torcida tricolor gaúcha em 2014. “Já que o xingamento é infelizmente inevitável, transformamos então, em uma expressão artística para provocar a reflexão sobre essa origem e a nossa própria História. A peça é um convite a pensar sobre isso”, completa o artista.
A montagem traz somente Clayton Nascimento no palco, a iluminação e um batom para falar sobre a urgência da vida negra no Brasil. Para amplificar esse debate, o artista receberá, ao final de cada apresentação, convidados para desdobrar temas pertinentes aos assuntos, fatos e estatísticas abordados na peça. A lista dos artistas convidados/as e as datas serão divulgadas nas redes sociais da Cia do Sal e do artista.
MACACOS é uma criação da Cia do Sal, fundada por Clayton Nascimento para fomentar a arte e educação nos palcos do país, e de sugerir o empoderamento político-social aproximando a História da nação a quem ela realmente pertence: ao povo brasileiro.
QUEM FAZ
Clayton Nascimento - Diretor, Ator e Dramaturgo
Ailton Graça – Provocador cênico
Aninha Maria Miranda - Diretora de Movimento
Daniele Meirelles - Diretora técnica e Iluminação
Murilo Thaveira - Arte
Vinicius Bogas - Iluminação
Bará Produções – Produção
Corpo Rastreado - Produção
PROGRAME-SE
Macacos, com Cia do Sal
Temporada: de 22 de setembro a 01 de outubro de 2022
quintas e sextas, às 19h e sábados, às 18h
Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro, São Paulo - SP
Duração: 90 min | Recomendação: 14 anos | Capacidade: 60 lugares
Grátis | Retirada de ingressos com 1h de antecedência
Para informações do grupo no Instagram: @ciadosal
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