“Augusto Jantar”, espetáculo da CenAto Companhia de Teatro, faz temporada no Teatro Oficina Perdiz da Asa Norte.
Como um arauto da década perdida, o texto “Augusto Jantar” de Alcione Araújo (1945-2012) estreou em 1980. Tudo se passa em um jantar. Como em “O discreto charme da burguesia” de Buñel, o grande desafio é manter o requinte e o estilo diante das situações que dificultam a elegante ceia. Mas, diferentemente da obra do cineasta espanhol, não há convidados. Só um casal, que em face da ausência de sua cozinheira, esforça-se para manter
A reencenação de Alex Bernardo vem a calhar em tempos em que esposas de indecorosos decorosos ministros mostram seu decoro antifeminista postando fotos de sua arrumação de mesa no Instagram… Em tempos que o governo patriota nacional bate continência para bandeiras estadunidenses… Em tempos em que se acusam indígenas e ambientalistas de queimar nossas florestas… Em tempos em que políticos cristãos comemoram assassinatos públicos… Nada além do teatro do absurdo nos serve de espelho.
Em “Augusto Jantar” evidenciam-se as contradições. A fineza não esconde o autoritarismo. A elegância não esconde a barbárie. O requinte não esconde o pastiche. A família rica, querendo ser moderna, expõe cada vez mais seu colonialismo. Aliás, se a história imperial inglesa tem algo a nos ensinar, é que modernidade e colonialismo são faces da mesma moeda. No absurdo desta peça e de nosso Brasil, resta a mais importante pergunta — com os ossos de quem é feito este augusto jantar?
PROGRAME-SE
PRODUTO: Espetáculo "Augusto Jantar"
GÊNERO: Teatro
ONDE SERÁ: Teatro Oficina Perdiz - SHCGN 710 – Asa Norte
QUANDO: 12, 13, 19, 20, 26 e 27 de outubro de 2019
HORÁRIO: 20h
CLASSIFICAÇÃO: Livre
QUANTO: R$ 40,00 e 20,00 (vendidos no teatro)
QUEM FAZ
Produção: CenAto Companhia de Teatro Dramaturgia: Alcione Araújo Elenco: Fabiana Tenório e Fernando Bressan Sonoplastia: Luiz Alberto Pires Iluminação: Daniel Ataydes Assistente: Rosanna Carvalho Fotografia: Lucas Medias Direção e Cenário: Alex Bernardo Base de release: Felipe Areda
OPINIÃO DO EDITOR:
"O texto, super contemporâneo e providencial, é uma boa pedida para reflexão do público num momento em que o país é atacado por ações de duplo sentindo, forjando uma normalidade em meio ao caos que estamos vivendo no Brasil"
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