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ENCONTRADOS REGISTROS RAROS DA 1ª TEMPORADA DE "O AUTO DA COMPADECIDA"COM ATORES DO RJ

Encontrados artigos raros no acervo da Fundação Brasileira de Teatri, Dente eles, fotos inéditas da primeira temporada carioca de "O Auto da Compadecida", realizada pela FBT no final dos anos 1950.

Foto raríssima do primeiro elenco carioca a montar "O Auto da Compadecida"

O trabalho de resgate, catalogação, digitalização, arquivamento e difusão do material da FBT tem por objetivo lançar luz a um rico acervo que, com o passar dos anos, manteve-se oculto justamente por não existir um plano continuado de manutenção de pertences pessoais da atriz Dulcina de Moraes e de patrimônio material relacionado à Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, ao Teatro Dulcina e à Companhia Dulcina & Odilon.


Por mais que houvesse empolgação e deslumbramento inicial pela riqueza de materiais pertencentes no prédio da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, foi necessário prudência, sobriedade, paciência e disposição da equipe que participa da nova gestão da FBT para que o inventário seja feito de maneira respeitosa com o acervo que restou e, principalmente, com a memória dessa importante dama do teatro brasileiro.


Diferentes ações já foram realizadas por gestões anteriores da FBT, fossem por meio de trabalho filantrópico e voluntário, por meio de delegação de funções administrativas e patrimoniais ao longo das administrações e por representações da Fundação Brasileira de Teatro. No entanto, todas as tentativas foram interrompidas, pausadas ou descontinuadas, mediante alterações na linha curatorial e administrativa da Fundação Brasileira de Teatro. Por muito tempo, confundiu-se o que era Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, Teatro e Galeria Dulcina e FBT. É tempo de deixar claro para a sociedade civil, classe artística e representantes governamentais as ações artísticas, pedagógicas e patrimoniais, a fim de que o ensino de arte, a manutenção teatral e artística e a história do teatro brasileiro sejam valorizadas no DF e regiões.


Se tais divisões entre FBT, FADM e Companhia Dulcina & Odilon nunca estiveram totalmente claras e explicadas para com colaboradores, funcionários, parceiros e estudantes do prédio situado no Setor de Diversões Sul de Brasília, como esperar que a sociedade civil se engaje pela história de Dulcina de Moraes, seu legado e a importância de seu trabalho para a cultura brasileira? Por isso, a decisão de abrir os arquivos originais de Dulcina para o público vem de encontro a uma necessidade da década de 2020: a de permitir o acesso a bens materiais e imateriais, conquistando engajamento, respeitabilidade e identificação com o acervo presente no prédio da FADM/FBT – o acervo que resume décadas de investimento e profissionalização do teatro brasileiro.


A primeira etapa das ações da Direção do Espaço Cultural da Fundação Brasileira de Teatro se deu através de visita ao prédio da FBT para compreensão inicial do estado de armazenamento e distribuição do acervo de Dulcina de Moraes e da própria fundação. Foram realizadas visitas ao prédio da FADM/FBT no mês de julho de 2022 já com a nova gestão da Fundação Brasileira de Teatro. Atualmente, as salas do 4º andar (antes dedicadas às aulas teóricas da FADM), estão repletas de pastas-arquivo com a trajetória acadêmica desde a fundação da FADM no início dos anos 1980. Há também, pastas e mais pastas com textos de teatro pertencentes à companhia Dulcina & Odilon e ao antigo Teatro Dulcina (quando situado no Rio de Janeiro). Da parte pedagógica, já está sendo feito um trabalho rigoroso por parte da equipe de secretariado. Da parte artística, todo esse dossiê histórico com textos teatrais, documentos e protocolos da transição da FBT do Rio para Brasília será analisado após a fase mais urgente: a do acervo físico não textual de Dulcina de Moraes e da FBT – ou seja: fotos, quadros, troféus, indumentárias e objetos pessoais da atriz e fundadora da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes.


A princípio, há um andar (a antiga presidência e, posteriormente, o antigo protocolo), subdivido em quatro salas. A ideia é unificar e criar uma linha lógica de mapeamento desses arquivos (ou por tipo, ou por período).


Participaram das ações de resgate, organização, limpeza prévia, catalogação, digitalização e armazenamento os profissionais Roberto Neiva (Secretário Executivo da FBT), Hugo Araújo (Porteiro da FBT), Josuel Junior (Diretor do Espaço Cultural FBT) e os pesquisadores voluntários Gabriel Cabral, Roberto Sá e Letícia Cardoso.


O AUTO DA COMPADECIDA

Em 1954, Ariano Suassuna, autor de clássicos da literatura e do teatro, abandonou a carreira de advogado e se dedicou inteiramente ao ofício de artista. Um ano depois, o pernambucano escreveu “O Auto da Compadecida”, texto baseado em três narrativas do romanceiro nordestino.

Revelação das fotos que seriam selecionadas para impressão oficial

Ao que consta nos bastidores do teatro brasileiro, a primeira encenação da obra foi feita no Teatro de Santa Isabel, no Recife, em 1957. No entanto, a peça não teve sucesso de público. De acordo com pesquisa da Le Livros, disponível neste link, em ocorreu no Rio de Janeiro o Primeiro Festival de Amadores Nacionais, concebido por iniciativa da Fundação Brasileira de Teatro. A apresentação do “Auto” foi feita pelo Teatro Adolescente do Recife, sob a direção de Clênio Wanderlei, e essa temporada abriu as portas do Sudeste para a obra, ainda que de maneira despretensiosa. A estreia aconteceu no dia 12 de dezembro de 1958.


Ainda de acordo com a pesquisa da Le Livros, “se a interpretação era boa, considerado aquilo que se pode exigir de um grupo amador novo e constituído de elementos jovens e, portanto, até certo ponto inexperientes, o que, por outro lado, tinha a vantagem de dar ao espetáculo um tom de simplicidade, de despojamento, de espontaneidade, que correspondia ao espírito da peça e se enquadrava, no estilo de apresentação que mais lhe convinha”.

Agildo RIbeiro no papel de João Grilo

Após a primeira apresentação, o festival que ainda duraria alguns dias foi interrompido, graças a um abaixo-assinado de outros artistas e críticos de teatro, que compunham a plateia. Eles pediram à organizadora do evento, a atriz Dulcina de Moraes, que colocasse a Compadecida em cartaz. “Foi a primeira vez que vi os participantes de um festival torcerem contra o trabalho deles”, conta Ariano em entrevista cedida à Revista Isto É. A peça venceu o Festival e logo depois foi feita uma versão carioca da obra, com aval de seu autor. As fotos dessa temporada no Rio de Janeiro nunca foram divulgadas ao grande público. São elas que Josuel Junior e a equipe da Fundação Brasileira de Teatro apresentam agora ao público da era digital.


A primeira montagem com elenco carioca teve no elenco nomes como Agildo Ribeiro (João Grilo), Francisco Saraiva (Bispo), Mário de Oliveira (Padre), Nildo Parente (Coronel), Jorge Ayer (Cangaceiro), Waldir Maya (Chicó), Cirene Tostes, Joel Vidal, Nancy Vanderley, Ivan Sena (Palhaço) Ronaldo Mendonça e Odilon Azevedo, proprietário da FBT que fez participação especial como o Diabo.


Vale lembrar que após as apresentações no Rio, a peça rodou o Brasil e foi encenada em 13 países, da Rússia aos Estados Unidos, passando por Cuba, Argentina e Alemanha, sendo posteriormente sucesso inquestionável no cinema e na televisão.

Além do álbum de fotográfica com registros raros de “O Auto da Compadecida”, outros 12 álbuns e centenas de fotos avulsas com registros de espetáculos, cerimônias, construção do prédio da FBT no DF, viagens internacionais e registros pessoais de Dulcina e Odilon estão sendo digitalizados pela equipe da Fundação a fim de que a memória do Teatro Brasileiro seja mantida, louvada e compartilhada pela nova geração.


Após organização prévia do material, constatou-se a importância de divulgar as ações da FBT junto à imprensa, buscando sensibilização de novos públicos e potenciais parceiros e apoiadores, visto que se trata de um acervo riquíssimo que conta parte da história do Teatro Brasileiro do Século XX.

As ações de divulgação tiveram forte aceitação pelos veículos de imprensa, gerando matérias em jornais, sites e emissoras de TV, elevando a nível nacional o trabalho que a atual gestão administrativa tem feito junto à FBT. Pelas redes sociais, artistas, direta ou indiretamente envolvidos com a história de Dulcina e da FBT estão compartilhando em seus perfis os desdobramentos dessa redescoberta do acervo de Dulcina.


O trabalho é difícil. As dívidas da Fundação Brasileira de Teatro ultrapassam 20 milhões e a com a chegada na nova equipe de gestão, ressurge a esperança de, pelo menos, salvaguardar esse acervo tão importante para a história artística e cultural do país. A equipe segue no propósito de difusão dessas ações para que mais brasileiros saibam da importância de Dulcina e de seu legado para as Artes Cênicas.

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