Rosana Maris como a protagonista no espetáculo Dolores - Minha Composição
Uma mulher poderosa, à frente do seu tempo, uma artista fugaz, que produziu muito, morreu jovem e não teve o merecido reconhecimento. Esse ícone da Música Popular Brasileira é o centro de Dolores - Minha Composição, espetáculo que estreia no Itaú Cultural em 23 de março de 2023. Rosana Maris dará vida à artista, no espetáculo que fica em cartaz gratuitamente até 16 de abril, de quinta a sábado, às 20h e domingos e feriados às 19h.
Com concepção, dramaturgia e atuação de Rosana Maris, direção e cenografia de Luiz Fernando Marques (Lubi), direção musical de Fernanda Maia e preparação da atriz de Denise Weinberg, o espetáculo apresenta planos de realidade que se entrecruzam para compor uma trama, em que seja possível fazer dialogar, ficção e realidade, passado e presente.
Dolores Duran viveu seu auge nas décadas de 1940 e 1950, produzindo dezenas de significativas composições, mesmo convivendo em um universo masculino, branco, preconceituoso e extremamente conservador e conseguindo ser uma mulher independente sendo negra, artista e pobre.
A concepção e dramaturgia é da Rosana, na busca de resgatar e dar mais luz à trajetória da artista carioca. “Eu creio que a Dolores se comunica demais com as plateias de hoje, com tudo que ela representava lá nos anos 1940/50, por ela ser essa pessoa que estava muito à frente da época. Além disso, vamos fazer no espetáculo uma homenagem para a maior compositora do país”, explica ela.
E o encontro com o Lubi só fez potencializar a história, já que o diretor também tinha planejado, anos atrás, fazer uma criação teatral sobre Dolores. “Ela foi a primeira artista que eu pesquisei com um olhar para tentar fazer uma montagem, por ela ser esse primeiro eu lírico feminino na música brasileira, com um volume de produção, e nessa perspectiva da intimidade do feminino eu acho que Dolores é icônica”, lembra o diretor.
Dolores - Minha Composição contempla tanto a vida dela, sua história quanto seu relacionamento com grandes figuras da música brasileira como Maysa, Tom Jobim e Vinicius de Moraes. A dramaturgia parte desse princípio: de uma atriz tentando ser essa monstra da música.
Para traduzir o universo da Dolores, a dramaturgia utilizou pontos da biografia da artista - uma mulher negra, que mesmo passando boa parte da vida artística solteira, conseguiu exercer e ocupar os lugares que ela ocupou. “Do ponto de vista da obra artística, é interessante porque de uma maneira geral é senso comum você colocá-la naquele lugar do samba-canção, da fossa. Mas se hoje olharmos com esses olhos da solidão da mulher negra, do patriarcado, do machismo estrutural, você começa a enxergar essas letras também como um protesto, como um grito ou de socorro, ou de alerta, ou de denúncia às vezes mesmo”, conta Lubi. “É interessante você pensar que ela é bossa nova, antes da bossa ser nova, ela já aponta na composição dela fundamentos e dinâmicas artísticas que depois foram se consolidar. E poucas vezes dão esse mérito para ela”, complementa o diretor.
Show espetáculo
A ação se passa em três ambientes diferentes: em um bar, em um show e na casa da artista. Em cena, a atriz (Rosana), a cantautora (Dolores) e a plateia têm um encontro para eclodir questões que dizem respeito ao amor, sonhos, a solidão nas grandes cidades, a opressão sofrida pelas mulheres, os entraves e preconceitos contra as mulheres livres, as questões ligadas à construção de identidade racial etc. Rosana interpreta canções compostas por Dolores ao vivo, acompanhada de um trio de músicos - Marcelo Farias, Pedro Macedo e Rodrigo Sanches.
O eixo principal é a biografia de Dolores, colocando em cena histórias emblemáticas que fizeram parte de sua vida, como as que cercam as canções compostas e interpretadas por ela, tudo acompanhado pelos músicos, seus grandes sucessos e parcerias. Além das canções mais conhecidas, como “A Noite do Meu Bem” e “Fim de Caso", há outras importantes na trajetória de Dolores, que falavam dos seus amores, da sua carreira, da sua vida e dos momentos importantes pelos quais passou.
O espetáculo parte do desenvolvimento de linhas temáticas distintas, planos de realidade que se entrecruzam para compor uma trama, em que seja possível fazer dialogar, ficção e realidade, passado e presente, tendo como eixo principal a vida de Dolores.
Dolores Duran - Vivendo sem concessões
Nos anos 1950, uma artista negra, de origem humilde, que viveu a vida como quis, subvertendo padrões, revolucionou a música brasileira, com dezenas de canções que provocam até hoje sentimentos fortes que vão de saudades e espera à solidão e ternura, sempre carregando em seus versos amor e dor.
Adiléia da Silva Rocha, nasceu na periferia do Rio de Janeiro em 1930, filha de um sargento da Marinha (que faleceu quando ela tinha apenas 12 anos). O primeiro prêmio foi aos 10 anos de idade, no Programa de Ary Barroso, “Calouros em Desfile”. Aos 16 anos, adotou o nome artístico. Autodidata, cantou músicas em inglês, francês, italiano e espanhol - a versão dela para o clássico estadunidense “My Funny Valentine” ganhou elogios da compositora da canção, Ella Fitzgerald.
A estreia de Dolores em disco foi em 1952, gravando dois sambas para o Carnaval. Três anos depois casou-se com o radioator e músico Macedo Neto (1955) e foi vítima de um infarto e, ao não seguir as recomendações médicas, teve complicações de saúde.
Foi uma das únicas parceiras mulheres a compor com Tom Jobim - “Estrada do Sol”, "Se é Por Falta de Adeus" e “Por Causa de Você”. Compositora e letrista, até hoje faz sucesso com canções como "A Noite do Meu Bem", “Castigo”, "Fim de Caso" e "Solidão". Mas também teve outros parceiros musicais, como Chico Anysio ("Prece de Vitalina"), Carlos Lyra ("Se Quiseres Chorar", "O Negócio É Amar") e Billy Blanco ("Céu Particular").
Morreu em 23 de outubro de 1959, com 29 anos, de ataque cardíaco.
QUEM FAZ
Concepção e Dramaturgia - Rosana Maris
Direção e Cenografia: Luiz Fernando Marques (Lubi)
Direção Musical - Fernanda Maia
Atriz - Rosana Maris
Preparação da Atriz - Denise Weinberg
Figurinos - Yakini Rodrigues
Preparação Vocal - Gilberto Chaves
Orientação Corporal - Janette Santiago
Músicos - Marcelo Farias, Pedro Macedo, Rodrigo Sanches
Lighting Design - Wagner Pinto
Assistência de Direção - Gabi Costa
Design de Som - João Baracho
Voz em off - Rodrigo Mercadante
Visagismo (Cabelo e Maquiagem) - Dicko Lorenzo
Design Gráfico - Fabio Viana
Direção de Produção - Daniel Palmeira
Produção/Idealização - Bem Te Vi Produções Artísticas
PROGRAME-SE
Dolores - Minha Composição
De 23 de Março a 16 de Abril de 2023
Horários: quinta, sexta e sábado, às 20h, e domingos e feriados, às 19h
Sala Itaú Cultural (Piso Térreo)
Capacidade: 224 lugares
Itaú Cultural
Av. Paulista 149 - Bela Vista, São Paulo - SP, 01311-000
Entrada gratuita
Reservas de ingressos na semana anterior às sessões através plataforma INTI - acesso pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br
Essa temporada contará com acessibilidade em libras em todas as sessões.
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