Com a pandemia e o fim de alguns projetos mantidos por incentivos de editais públicos, as agendas culturais de diferentes veículos do DF têm aberto espaço para atrações de São Paulo e Rio de Janeiro. Atualmente, com excessão das lives musicais, são raras as atrações locais de teatro (mesmo que gravadas) nos veículos da capital.
Existem diferentes formas de se divulgar um espetáculo teatral em veículos de comunicação. A principal delas, é por meio de assessoria de imprensa contratada pela produção. Os assessores enviam releases das peças para jornais impressos, online, telejornais e sites na esperança de serem noticiados com um certo destaque na pauta. Outra forma de divulgação é por meio da apuração jornalística. Diferentes colunistas de cultura observam o que tem movimentado a cena cultural para propor entrevistas, matérias especiais ou espaço em agenda. Um site sempre observa o outro, da mesma maneira que um jornal sempre observa o outro jornal.
Com a pandemia, muitos projetos presenciais precisaram migrar para o formato online. Essa mudança se tornou essencial para que as verbas oriundas de editais de incentivo cultural pudessem circular, sempre empregadas no sustento das equipes técnicas, artísticas, logísticas e operacionais. O primeiro entrave encontrado pelas produções foi o do aval das Secretarias de Cultura. Essa permissão para mudança de formato foi lenta e bem burocrática. Espetáculos precisaram ser gravados, disponibilizados por link pela internet ou até encenados ao vivo por meio de plataformas coletivas. Algumas funções e desdobramentos como divulgação impressa precisaram migrar para impulsionamentos online. Tudo isso, que hoje parece mais simples, foi bem assustador na primeira fase de mudanças. O preço a impressão de programas impressos precisou ser direcionado para gravação, edição e transmissão. E esse valor de gravação é muito maior do que o do atacado de impressão em gráficas. Todo o orçamento dos projetos precisou mudar.
Pois bem... Muitos projetos culturais de Brasília conseguiram tal aval, migraram para o online e foram executados numa fase de muita oferta de produto artístico e pouca procura do público (que ainda estava se adequando ao formato). Essa avalanche de atrações online feitas por links do Youtube ou por videoconferência pelo Meet e Zoom foi diminuindo e, agora, se tornou um vento frio mais tímido, uma vez que as atrações cumpriram seu papel junto aos artistas, ao público e aos patrocinadores.
Com isso, as agendas culturais de Brasília também precisaram se adaptar. Receitas de bolo, hamburguer artesanal, doces da páscoa e palestras motivacionais passaram a ocupar um espaço tão requisitado por artistas em outros tempos. Para manterem conteúdo ativo, as agendas culturais de jornais, sites e televisões de Brasília passaram a divulgar também as ações de Goiás. Com a escassez das ações goianas, esse leque foi aberto para divulgação de peças teatrais de todo o país. Por serem online, as atrações de teatro se tornaram abertas ao público de diferentes regiões. Ao abrir um site, você não sabe exatamente se uma peça é do Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus ou Belo Horizonte. Se, por um lado, essa abertura aproxima o teatro nacional do público local do DF, por outro lado, as poucas atrações locais resistentes e independentes agora precisam competir com CCBB's, SESC's e demais entidades que possuem forte impacto junto às redações de pauta cultural.
Hoje mesmo... Hoje é dia 02 de julho de 2021. Pesquisando sites como Alô Brasília, Aqui Tem Diversão, Deu Bom Brasília, Brasília de Boa, Dicas da Capital, Jornal de Brasília, Correio Braziliense e o próprio Bom Dia DF, via Globoplay, percebemos que há, no momento, apenas duas atrações brasilienses de teatro em vigor: Uma é o espetáculo "Milk-shakespeare", dirigido por Fernando Guimarães dentro da programação online da Mostra Dulcina, e o Festival Cena Contemporânea, que conta com transmissões de peças locais, nacionais e internacionais pela internet. Fora essas duas atrações (que são dignas de todo o respeito e admiração, claro), o que se tem em voga nas agendas são as lives de pisadinha, sertanejo e festas. No entanto, alguns sites, como o Portal Conteúdo, se limitam ao direito de não divulgar atrações de festas por causa dos efeitos nocivos das aglomerações.
Muitos sites se limitam a anúncios pagos e a divulgações patrocinadas. Isso não é errado. É uma decisão da linha editorial e gestão financeira de cada espaço. Mas aí a concorrência com a peça local chega a ser desleal. O artista que tanto alimentou as pautas dessas agendas se sente agora forasteiro em sua própria cidade.
Existem divulgações de espetáculos teatrais nesses espaços? Sim! Mas não são propriamente de Brasília e regiões. Assessorias de imprensa de pequeno, médio e grande porte já identificaram essa questão e passaram, então, a divulgar seus produtos sem mencionar exatamente a qual estado pertencem. Em alguma parte do texto é que identificamos que a obra X ou Y é oriunda de um projeto de incentivo emergencial dos estados de Minas, São Paulo, Amazonas, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul... É possível contar nos dedos de uma única mão quais são as do DF.
E olha que o Portal Conteúdo tem buscado... Sempre divulgamos ações e iniciativas culturais e artísticas do DF no segmento de teatro, dança, artesanato, performance, festejo e música, mas de teatro mesmo pouco se tem. Nos últimos dias falamos de importantes projetos do DF como o Seu Estrelo, as lives de Martinha do Coco, o Cordel de Davi Mello, espetáculos de Mamulengo, as exposições do CCBB e da Feira do Guará, as ações de arte-educação da Cia Rainha de Copas e V4 Cultural, o trabalho da Andaime Cia. de Teatro, mas acredite... é pouco ainda. Antes havia uma concorrência sadia e até uma curadoria maior dos colunistas de cultura que deciciam o que entraria ou não na pauta. Hoje não há essa possibilidade. E o espaço, que já era pouco, agora está menor, uma vez que os releases de outros espaços passaram a tomar conta dele.
De quem é a culpa?
Essa é uma questão delicada... É difícil exigir do artista independente que crie, crie, crie e satisfaça a audiência sedenta por atrações culturais. Até porque o artista independente, que não tem subsídio de edital cultural público, está numa posição hiperdesfavorável. No país em que falta comida, vacina e respeito, é complicado exigir inventividade de uma categoria tão abalada. A enxurrada de lives e transmissões online do começo do ano acabou. Muitas produções que tinham cartas na manga já as utilizaram. Mostras e temporadas teatrais híbridas já chegaram ao fim e o último edital do FAC (Fundo de Apoio à Cultura), muito provavelmente, só injetará dinheiro na conta dos selecionados em meados de 2022.
Esta matéria também não tem uma proposta, uma sugestão. No momento, apenas alertamos o inevitável: As poucas atrações resistentes em Brasília terão que disputar espaço de agenda cultural local com gigantes das artes dos eixos Rio - São Paulo - Minas Gerais. Desejamos, claro, que todas as produções artísticas do Brasil alcancem êxito, mas é importante lembrar aos gestores e redatores de sites e agendas culturais do DF que a categoria artística de Brasília e regiões lutou muito para alcançar notoriedade. Cuidemos para que isso não se perca quando a pandemia chegar ao fim.
Aos artistas de Brasília o nosso compromisso: Estamos com vocês sempre.
Para divulgar seu espetáculo envie release para falecomportalconteudo@gmail.com.
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