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Josuel Junior - Editoria

2ª EDIÇÃO DA REVISTA "MENINOS QUE VI" JÁ ESTÁ DISPONÍVEL

Uma revista colaborativa tem alcançado público interessado em arte homoerótica. A editoria conta com trabalhos de artistas visuais de todo o Brasil, além ser um espaço de divulgação para que o leitor conheça melhor quem está por trás das obras.

A Meninos Que Vi é uma revista de arte homoerótica disponibilizada de mandeira gratuita pela internet. Conta com trabalhos de fotógrafos, ilustradores, escritores e artistas da cena de todo o Brasil. Esses artistas disponibilizam suas obras para um grande catálogo que pode ser apreciado pelos amantes do gênero. Tudo de forma gratuita e sem censura. Nos diferentes editoriais, é possível, inclusive, encontrar o link de contato para cada artista que tem suas obras expostas nas páginas digitais. Uma rede de apoio a artistas que tem conquistado cada vez mais adeptos, uma vez que nas redes sociais está difícil divulgar ações de nu artístico e arte erótica atualmente.


A grande inovação do projeto é permitir que o público possa também ter uma obra assinada por cada artista, a seu critério. Muitos têm peças exclusivas para venda e também trabalham sob encomenda, como é o caso de Rafael Bastos e Fabio Lopes, que já foram entrevistados por nossa coluna do Portal Conteúdo. É a oportunidade de ter uma obra de acordo com o censo estético de cada leitor. Dessa forma, público e artista estreitam os laços entre si, podendo fazer com que surjam potenciais trabalhos futuros.


O idealizador da proposta é Thiago Muniz, que atualmente mora em Toronto, no Canadá. Mineiro, de Belo Horizonte, Thiago é designer gráfico e especialista em artes visuais e gestão de marcas. Com verdadeira paixão pela comunicação, tenta aliar as linguagens na elaboração da Meninos que Vi, que nas redes é conhecida pela sigla MQVmag. Atualmente, ele tem estudado sobre desenho e se aprofundado cada vez mais em leituras sobre representatividade LGBTQIA+ nas redes sociais, sobre questões relacionadas à expressão da masculinidade e sobre como isso impacta a vida do homem gay nos tempos atuais.


"A partir dessas leituras, eu faço algumas enquetes e postagens mais questionadoras no perfil do instagram, sempre abrindo espaço para um desabafo dos seguidores, e isso tem promovido uma conversa bem legal entre os meninos que estão por lá.", explica.

Em 2008, Thiago lançou um blog com alguns amigos. Ele se chamava "dasBancas" e falava sobre os lançamentos do mundo das revistas. Em paralelo, criou também o "Nada Errado", que era um portal LGBTQ, que depois de alguns meses no ar foi abraçado pela MTV, ficando lá por alguns anos.

Com um salto no tempo, vamos para 2019, ano em que foi criado o perfil de ilustrações "Meninos que Vi" nas redes sociais:


"O Meninos que Vi nasceu para isso: compartilhar desenhos que eu fazia a partir das biscoitagens que eu tava vendo na minha timeline. Como cresceu rápido, comecei a me conectar com diversos artistas que não fazia ideia de que existiam. Minha alma designer/produtor de conteúdo começou a ficar inquieta porque todo mundo enfrentava o mesmo problema nas redes sociais: a censura. Do nada as regras mudavam, do nada uma conta caía, do nada alguém precisava recomeçar tudo... E daí veio a ideia de fazer uma publicação digital, onde o trabalho desses artistas estariam reunidos, organizados e fáceis de serem acessados, sem risco de cair."


Com o projeto da revista pronto, aconteceu o que ele mais temia: sua conta original foi derrubada pelo Instagram e junto dela foram embora os mais de 6 mil seguidores. Então, a revista que tinha o objetivo de projetar os outros artistas e ser um espaço seguro para eles, virou também uma sustentação para o seu próprio recomeço, além de uma plataforma usada como matriz das outras ideias e projetos que possam vir a surgir.

O projeto impressiona por, de fato, ser um catálogo de arte contemporânea. O que foi produzido semana passada por um artista de São Paulo ou de Goiás já pode, instantaneamente, compor as páginas da edição seguinte. O mais interessante é que, além de ilustrações, desenhos, fotos de ensaios particulares e coletivos, há também colunas, com textos que andam de acordo com a demanda editorial. A diversidade também está presentes nas páginas com muitos, muitos trabalhos que nos revelam a beleza de todos os corpos... Não se trata apenas de um composite de trabalhos antigos desses artistas criadores, mas sim algo fresco, que dialoga diretamente com a situação sociocultural.

A primeira edição, lançada em maio de 2021 trouxe na capa um ensaio especial do ator e diretor Davi Reis. Já a segunda, lançada nesta última semana de agosto, traz um ensaio do artista visual e professor Helder Amorim, além de exposição de seus trabalhos sobre masculinidade. Os dois ensaios mostram um pouco do processo de intimidade desses homens ativamente envolvidos com o universo das artes. Sobre a escolha dos dois, Thiago comenta:


"Tanto o Davi, quanto o Helder são caras incríveis e super dispostos a ajudar. Ambos foram desenhados por mim anteriormente e, a partir dessas ilustrações que fiz, fui construindo uma relação mais próxima e de confiança mútua. A escolha deles está ligada ao fato de serem inteligentes, dedicados à arte, de sempre participarem de projetos de artistas iniciantes e auxiliarem na divulgação destes criadores. Quem acompanha os dois nas redes sociais sempre vai ver algum trabalho lindo para o qual eles posaram. Então, no meu processo de escolha para o homem da capa, não bastar ser bonito, é preciso ter essa conexão real com as artes e que eles entendam que a presença deles ali é, também, uma plataforma de projeção para essas outras pessoas.".

Sobre a diversidade de corpos e de estilos que compõem a revista, Thiago defende fortemente a ampla divulgação das manifestações artísticas que representam os mais variados homens:


"Nesses dois anos de Meninos que Vi, uma das coisas que mais me chateia é a tal da ditadura do corpo padrão. Desde o começo, um dos objetivos do meu trabalho é mostrar as mais diversas formas que o corpo masculinino pode ter: magro, gordo, magrelo, gordinho, gordão e, por que não... musculoso. Por isso, numa celebração a estes meninos, minha séries desta edição da MQVmag é inteira para eles. Maiores ou menores, eles são todos perfeitos demais para serem padrão.", comenta o criador do projeto.

COMO TUDO FUNCIONA?

Através de suas próprias ilustrações e provocações nas redes, Thiago faz uma espécie de chamada aberta, deixando claro que está recebendo trabalhos de artistas para comporem a revista. Em paralelo, também faz uma investigação pessoal pelas redes em busca de artistas e projetos que eu ainda não conhece e que tenham uma proposta que possa aguçar a curiosidade dos seguidores/leitores. Além disso, há a indicação de novos perfis por meio dos seguidores que acompanham o Meninos que Vi.

"Meu objetivo inicial é não ter restrições. Nesta segunda edição, por exemplo, alguns dos projetos publicados que mais gosto são de artistas que chegaram no meu email, sem eu nunca ter visto nada deles antes. E eu acho bom demais compartilhar algo que é incrível e que está, aparentemente, escondido na internet."


Do ponto de vista prático, a revista segue um fluxo de trabalho bem objetivo e parecido com uma revista 'normal':

• Período de envio de material - que pode ser qualquer tipo de artes visuais e também textos que dialoguem com o universo LGBTQIA+;

• Curadoria;

• Diagramação do material;

• Revisão;

• Publicação online em PDF.


O retorno após o acesso existe e é muito positivo. É comum que fotógrafos e artistas que estão na edição comentem que fecharam novos projetos a partir da exposição do material. Um trabalho que gera orgulho pra quem elabora, pra quem participa direta ou indiretamente e para quem acessa e pode fruir um material realizado com tanto esmero.


"De verdade, o que me faz ter orgulho desse trabalho (que é enorme e desgastante), é ver o agradecimento de um artista pequeno que chegou aos 1000 seguidores no instagram, é ver o fotógrafo que está passando perrengue nessa pandemia fechando orçamentos. As pessoas adoram acompanhar artistas – principalmente os que trabalham com o universo erótico –, mas esquecem que no fim do mês as contas chegam para todos."


COMO TER ACESSO AO CONTEÚDO?


Para ter acesso gratuito à MQVmag, basta realizar um cadastro clicando aqui. Automaticamente, com os dados coletados, o realizador do projeto entrará em contato com os membros, disponibilizando notícias e links das futuras edições.


Trata-se de um projeto gratuito, mas toda contribuição é bem-vinda, pois organizar e diagramar mais de 150 páginas não é uma tarefa simples. É um universo da arte homoerótica brasileira colocado de forma a ser apreciado sem pressa pelo público que se identifica com a linguagem.


Se você ainda não segue o MQV no instagram, aproveite...

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