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12 ESPETÁCULOS QUE SAÍRAM DA ACADEMIA

Que balbúrdia, que nada! Faculdades de Artes de Brasília geram espetáculos que saem do ambiente acadêmico e ganham temporadas profissionais nos palcos da cidade. Confira 12 obras que ganharam os palcos.


Muitos são os talentos de Brasília. É comum encontrar colegas das artes cênicas pelos corredores das faculdades e perceber, quase que intuitivamente, que muitos representarão o teatro da cidade em suas produções individuais ou coletivas. Artistas e estudantes provocativos, ácidos, ávidos e corajosos comprovam que a produção cultural, seja independente ou coligada, segue firme e forte. Confira alguns espetáculos que saíram da esfera acadêmica para temporadas profissionais:


BEIJO NO ASFALTO (2009, 2010 e 2011) – O espetáculo da Fábrica de Teatro nasceu da mistura das disciplinas “Construção da Personagem”, ministrada por Silvia Paes e “Projeto de Interpretação”, dos Irmãos Guimarães, na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Como a peça extrapolou as fronteiras da disciplina, um grupo de colegas se juntou e montou a Fábrica de Teatro. Com direção de Tássia Aguiar, a peça ganhou forma, se tornou a mais assistida da 9ª Mostra Dulcina e emendou uma temporada atrás da outra no Plano Piloto, Sudoeste, Samambaia, Espírito Santo e cidades do Chile. O espetáculo teve sua produção encerrada em 2011 e foi apresentado para mais de quatro mil pessoas.


DIA DE VISITA (2009, 2010 e 2011) – Também desenvolvido pela Fábrica de Teatro em parceria com o projeto Dulcina Parcerias Teatrais, “Dia de Visita” nasceu da disciplina de licenciatura “Projeto III”, ministrada por Francis Wilker e Nei Cirqueira. O espetáculo juntava as obras “Barrela” e “A Mancha Roxa”, de Plínio Marcos, e causou forte comoção na capital por construir uma cadeia em proporções reais nos corredores do subsolo do CONIC. Em cartaz por três anos, a peça foi sucesso de crítica e contou com sessões lotadas do começo ao fim. Na última temporada, em 2011, o grupo do Rio de Janeiro Nós do Morro participou de ações de intercâmbio com o elenco.


AUTÓPSIA (2011 a 2018) – Plínio Marcos é sempre um autor que funciona muito no universo teatral brasiliense. O espetáculo, que conta com cenas de diferentes obras do autor maldito, surgiu em 2011 como exercício da disciplina de Montagem I e II na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. A orientação e direção é de Jonathan Andrade. Desde então, novos atores fizeram parte das versões da peça, que hoje é premiada e reconhecidíssima em Brasília e outros estados do país, tendo 04 atos que, volta e meia, são apresentados nos principais teatros, sempre alcançando novos públicos e inovando na carga dramática gerada com uma equipe sagaz e potente do teatro do DF.


ADUBO (2006 a 2019) – Nascido pelo Grupo TUCAN/DF, o espetáculo “Adubo, ou a sutil arte de escoar pelo ralo” nasceu como resultado de oito meses de pesquisa de várias equipes de estudantes de artes e profissionais da universidade de Brasília. O espetáculo, que tem como temática a morte, é um trabalho que investiga poeticamente este misterioso momento com o qual todos os seres vivos, cedo ou tarde, se encontrarão. A peça, dirigida por Hugo Rodas, se tornou modelo de refinamento do trabalho nascido na academia, chegando à cena aberta. Hoje em dia é apresentada em caráter especial em mostras ou eventos diversos.


PÁGINAS AMARELAS (2006 a 2011) – O espetáculo “Páginas Amarelas” nasceu através do projeto de diplomação da Universidade de Brasília, orientado e dirigido por Kenia Dias, com assistência de direção de Diego Azambuja. A peça, inspirada nos quadrinhos “A Pior Banda do Mundo” do português José Carlos Fernandes, apresenta um misterioso lugar sem nome, retratado em traços amarelados pelo tempo, em cujas ruas e edifícios se cruzam personagens aprisionados em um cotidiano de repetições e fracassos. Ao longo das temporadas, “Páginas Amarelas” rendeu à equipe quatro prêmios na Mostra Universitária do Festival Internacional Rio Cena Contemporânea 2007 (RJ) e um no Prêmio SESC de Teatro Candango 2007.


APARTAMENTO 403 (2017 e 2018) – O espetáculo “Apartamento 403”, dirigido por Fernando Guimaraes, nasceu na disciplina “Projeto de Montagem Teatral II”, da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. A peça contou com estudantes da faculdade e a participação de atores convidados, que revelavam segredos e neuroses de suas personagens num apartamento em obras. Uma sátira à violência com diversos personagens-tipo. Após a temporada na faculdade, o espetáculo ganhou temporada profissional no Centro Cultural Banco do Brasil.


UMA BONECA NO LIXO (1998 a 2018) – Em 1998, Cristiane Sobral criou o Cabeça Feita, primeiro grupo de teatro negro de Brasília. Buscou fundamentá-lo com experiências no Bando de Teatro Olodum (BA) e Cia. dos Comuns (RJ). A companhia, no momento, sem atividade regular, criou uma dramaturgia própria e negra. Surgiu daí, ainda na Universidade de Brasília, o espetáculo “Uma boneca no lixo”, dirigido por Hugo Rodas. O espetáculo foi criado durante seu último semestre de graduação, em uma época que não existia um teatro, apenas uma sala de ensaios no departamento de teatro da universidade, e ganhou remontagem ao longo dos anos. Hoje é símbolo de teatro de resistência da atriz, diretora e poetisa, que realiza diferentes ações artísticas pelo Brasil.


PROJETO PÉS (2001 a 2019) – O projeto Pés, idealizado em 2009 como parte da pesquisa de Rafael Tursi no curso de licenciatura em Artes Cênicas na UnB, passou a se configurar como um Projeto de Extensão e Ação Contínua da Universidade (PEAC/UnB). Um elo entre o que se pesquisa na academia e a plena participação da comunidade, em contribuição mútua. De 2011 para cá, o PÉS realizou e levou para fora dos espaços da Universidade de Brasília, quatro espetáculos teatrais. São eles: Klepsydra (2011-2016); Grão(s) (2013); Similitudo (2015-2018); e Ludo (2016-2017), com destaque para o terceiro deles, “Similitudo”. Estreado em 2015, o espetáculo “Similitudo” aborda, sem palavras, questões do convívio social no dia-a-dia e de como esse cotidiano, muitas vezes, poda e molda padrões de movimento, de relacionamento e até de sensibilidade. Com apresentações frequentes, entre 2015 e 2018, em novembro de 2017, o espetáculo foi apresentado no Teatro La Baita, na cidade de San Carlo de Bariloche (Argentina), além de participar de diversos outros eventos, como os internacionais MID e Sentir, e os locais Festival Dulcina, Palco Giratório, Palco Cerrado e IFestival.


TODO MUNDO PERDE ALGUMA COISA AOS OITO ANOS (2018 e 2019) – O espetáculo é uma proposta híbrida e acadêmico-profissional. Tudo numa só tacada. Com direção de Gustavo Haeser, a obra apresenta cinco amigos que se reúnem em uma festa do pijama, levantando questões e reflexões sobre a masculinidade nos dias atuais. Além de ser apresentada em ambiente acadêmico, a obra já emendou temporada no teatro de bolso A Casa dos Quatro no DF. Atualmente, a obra é assinada pela chancela do Grupo Tripé.


(DES)ESPERAR (2007 a 2011) – O espetáculo (des)esperar é a primeira produção da Andaime Companhia de Teatro. A peça, dirigida por Tatiane Bittar, foi concebida para o projeto de diplomação em Artes Cênicas da UnB em julho de 2007 e é uma livre adaptação do clássico “Esperando Godot” de Samuel Beckett. Em diferentes circulações, recebeu prêmios de melhor iluminação, espetáculo e trilha sonora, além de turnês em outros estados.


CAFÉ COM TORRADAS (2009 A 2011) – Os inusitados dilemas cotidianos eram abordados pelo espetáculo “Café com torradas”, numa parceria dos atores Hugo Amorim, Jhony Gomantos e Guilherme Monteiro. A obra narrava a história de Fulano, típico cidadão brasileiro que se depara com o infortúnio de ser acordado em plena madrugada e nasceu como um esquete dentro do espetáculo “ExaGero”, dirigido por Giselle Rodrigues. Aos poucos, foi se emancipando e ganhou uma versão estendida, com temporadas profissionais em Brasília, Taguatinga e Santiago do Chile, sob a chancela de produção da Cia. de Teatro IN”PROVISÓRIO” e do Projeto Dulcina Parcerias Teatrais, tendo o ator Mário Luz como novo integrante.


PATÉTICO (2018-2019) – Um ator fracassado é impossibilitado, pela própria realidade, de fazer o teatro pomposo com que sempre sonhou. O espetáculo solo de João Ricken tem texto e direção de Clara Rabello e tem feito temporadas por teatros do DF e Departamento de Artes da UnB.


É certo que num ambiente acadêmico são muitos os colegas que desistem da graduação, percebem que talvez a veia acadêmica não seja sua filosofia de vida esperada. Isso não abala, claro, a importância da criação acadêmica, que incentiva e dá novos horizontes aos futuros artistas do país. Fui formado em Licenciatura e Bacharelado pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes e se posso confirmar algo ao longo da carreira é que, depois de formados e fora do ambiente acadêmico, todos nos igualamos. Seja você da Faculdade Dulcina, do Curso de Teatro do IESB ou da Universidade de Brasília… uma vez depois de formados os artistas passam a ser de uma mesma categoria. Acredito até que isso seja o bacana da coisa… As potências nascidas em salas de aulas ganham força na prática quando as questões éticas, conceituais e estéticas se encontram, afinal, é no mercado de trabalho que o bicho pega e que são equalizadas as formações para um único fim: a manutenção da arte e da cultura de nossas cidades. Reitero a questão ética da academia, sobretudo porque sou sim um daqueles artistas que evita trabalhar com colega imprudente, mazeleiro, que sempre faz as coisas na coxas ou que acredita que tem o rei na barriga por falta de consciência de grupo ou da vaidade exacerbada. Vacilou comigo num trabalho anterior, certamente não haverá de mim paciência para um trabalho posterior. Porém, para esses não dou palanque. Prefiro os colegas inventivos, legais e que terão uma história além das lembranças de sala de aula. Admiro essa nova geração, até porque também me enxergo parte dela.


Um salve aos estudantes de Artes Cênicas do Distrito Federal! Um salve a quem acorda cedo, pega ônibus, carro de aluguel, carona, bike ou vai a pé! Pode ser que agora não tenhamos muito contato, mas espere só um pouco que logo logo estaremos juntos na categoria de artistas, aprendendo sempre (claro) e lutando e mantendo isso que tanto acreditamos e que nos faz sofrer e sorrir: o teatro!


Evoé!


*Matéria originalmente publicada por Josuel Junior no site Aqui Tem Diversão e repostada com alterações no Portal Conteúdo.

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